Terça-feira, 18 de Janeiro de 2011, Tribunal de Salónica
O julgamento recomeçou e ouviu a 10ª testemunha, um polícia pertencente a um pelotão a polícia de intervenção baseada em Atenas. Foi o agente responsável pela detenção de Fernando. Ele testemunhou como a sua equipa chegou a Ignatia a disparar granadas de gás e foi imediatamente confrontada por um grupo de manifestantes que estavam tão perto que foi uma luta de corpo a corpo. A testemunha afirmou que Fernando atirou um molotov contra a sua equipa a uma distancia de 2 ou 3 metros e seguidamente atirou um very-light. Ambos falharam. Disse que prenderam Fernando e que encontraram uma fisga e bolas de metal na sua mochila.
Esta testemunha disse que levou o detido e a sua mochila para o carro da equipa de detenção e que seguidamente foi transferido para a equipa de investigação preliminar na esquadra da polícia. Nenhuma acusação foi feita relativamente à fisga e ao very-light. Fernando foi acusado de atirar um certo número de molotovs à polícia, mas no segundo julgamento isto foi reduzido para apenas um. Fernando negou sempre ter uma mochila consigo e atirar o que quer que seja à polícia.
Quando o relatório original feito por este polícia (testemunha #10) sobre a detenção de Fernando não foi feita nenhuma referência à mochila na lista de pertences apreendidos. A defesa diz que nunca existiu mochila nenhuma, nem molotov, nem very-light. O polícia disse que estava cansado quando deu o seu testemunho e simplesmente se esqueceu de mencionar a mochila (uma prova!). A mochila só é mencionada em relatórios feitos durante essa noite. A defesa pediu que como é uma prova, essa mesma mochila fosse apresentada em tribunal, embora de momento não se saiba onde está.
Outra testemunha (polícia nº 11) foi adicionada a este caso 18 meses depois, em Setembro de 2004. Este polícia não foi mencionado pelo polícia #10 no seu relatório inicial. Ele explicou que foi à esquadra onde Fernando estava detido nessa noite mas não testemunhou nem apresentou provas pois tinha sido ferido durante os confrontos e teve que ir à base onde foi visto por um médico que lhe deu alguns pontos nos pulso, embora não exista nenhuma nota ou relatório sobre a lesão ou o tratamento.
A defesa disse que houve polícias com ferimentos mais graves do que do polícia #11 e que fizeram relatórios sobre as detenções em que estiveram envolvidos um ou dois dias depois. Este agente demorou 18 meses para apresentar provas contra Fernando.
Existem muitas inconsistências entre as provas dadas pelo polícia #10 e o polícia #11 neste julgamento, e entre as provas apresentadas no julgamento de 2008 e neste recurso que está a decorrer. Um deles, ou ambos tem que estar enganado pois não podem estar os dois correctos. Foi perguntado outra vez ao polícia #11 porque não testemunhou na altura da detenção de Fernando e ele disse que o seu superior pensou que o testemunho do polícia #10 seria suficiente.
A testemunha seguinte (polícia #12) é o comandante da equipa que deteve Simon Chapman. Ele manteve a história da mochila preta e da mochila azul. Mais uma vez, só entregou provas depois dos vídeos e fotos (a favor da história de Simon) terem sido amplamente divulgados. Disse que a sua equipa recolheu mochilas abandonadas com molotovs partidos ou não e juntou-as à volta de Simon - que segundo este mesmo polícia estava encharcado dos pés à cabeça com gasolina - pois era o local mais seguro para as guardar. O advogado perguntou se o local mais seguro para guardar mochilas a verter gasolina seria perto de um homem encharcado também em gasolina e cercado por polícias que, segundo o seu testemunho, estava ainda a ser atacados com molotovs e pedras.
Foi-lhe perguntado sobre as lesões de Simon. Disse que ele poderia estar a sangrar da cabeça antes da detenção, ou que se feriu ao cair (estranho tendo em conta que os ferimentos são na parte frontal da cabeça e ele supostamente caiu de costas!) ou que provavelmente foi atingido por uma pedra. Esta testemunha confirmou que a sua equipa levou Simon para zonas onde estiveram envolvidos em confrontos com manifestantes que os atacavam com molotovs e que o fizeram carregar a mochila preta durante duas ou três horas. Esteve o tempo todo algemado. Foi-lhe perguntado porque é que consideraram demasiado perigoso levar a mochila azul (alegadamente cheia de molotovs partidos) como prova, mas era seguro levar um homem algemado, encharcado em gasolina e a transportar uma mochila cheia de molotovs intactos. Tudo o que a testemunha disse foi que era muito perigoso levar a mochila azul.
A testemunha seguinte (polícia #14) era o comandante (agora reformado) de um pelotão da polícia de intervenção de Salónica que deteve Kastro. Ele afirmou que viu Kastro na frente de uma multidão de 400 pessoas na Praça Aristotle e que lhe iam sendo passados molotovs (entre 5 e 7) que ele depois atirou à polícia de uma distância de cerca de 70 metros. Ele disse que nenhum mal poderia ter sido feito aos polícias, civis ou propriedade. Testemunhou que Kastro tentou escapar através das ruínas do mercado antigo no cimo da praça e que apareceu subitamente muito perto de si que decidira - depois de uma hora a observar Kastro a atirar molotovs - avançar com mais polícias para fazer detenções.
Kastro foi acusado de carregar uma mochila que continha duas fisgas, bolas de metal para usar como munição, uma máscara de gás e documentos pessoais que confirmaram a sua identidade. A defesa disse que no julgamento de 2008 este polícia disse que estava certo de que existia um risco real para polícias e civis por causa dos molotovs alegadamente atirados por Kastro, mas neste afirma que não existia esse risco. Kastro disse sempre que não tinha mochila nenhuma.
O polícia #13 não sabia o que aconteceu à mochila depois de Kastro ter sido levado para a esquadra nem onde está agora. A defesa passou muito tempo a tentar estabelecer onde esteve esta testemunha e a sua equipa durante os confrontos apontando inúmeras inconsistências relativas à hora de detenção. A defesa disse que nenhuma descrição dele foi feita na altura da detenção, estas descrições apareceram apenas no relatório de 2004.
O polícia #14, testemunha seguinte, deu também provas contras Kastro e manteve o que o seu chefe disse antes embora tivesse acrescentado que o viu disparar parafusos e outros objectos metálicos contra a polícia com uma fisga. Mais uma vez, a história contada no primeiro julgamento não coincide com a contada no actual. Um ponto importante focado pela defesa foi em relação a uma afirmação da polícia que dava a entender que as acções de Kastro aconteceram antes da manifestação organizada pelos sindicatos. Os sindicalistas que falaram às pessoas presentes na Praça Aristotle afirmaram que não houve distúrbios antes da manifestação.
No relatório original da detenção de Kastro não há referência nenhuma a documentos pessoais encontrados na mochila (que provam que era sua) e nem esses documentos nem a mochila foram apresentados como provas. Não está claro que documentos seriam esses (havia muitos gritos e confusão no tribunal).
Kasto perguntou porque não foi detido durante uma hora, apesar de estar afastado da multidão na praça e ter alegadamente mandado 5, 7, 10 ou mais molotovs à polícia. Ele afirmou que as equipas da polícia prendem imediatamente quem as ataca nem que seja com uma garrafa de água de plástico vazia. Porque não foi preso antes? E se a sua intenção era lutar com a polícia porque não estava com uma mascara de gás nem preparado para guerrilha urbana. O polícia #14 não soube responder...
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