quarta-feira, 7 de abril de 2010

[Espanha] A recuperação de dois hinos históricos: Hijos del pueblo e A las barricadas!

Quando abordamos a história do anarcosindicalismo ibérico não podemos deixar de valorizar os símbolos que a têm representado durante estes cem anos que agora cumpre a CNT.

A bandeira vermelha e preta, Heracles com o leão de Neméia, as próprias siglas da CNT, são sem dúvida as principais representações gráficas do anarco-sindicalismo ibérico, ainda que seja bastante mais antiga do que a própria CNT.

Mas se falamos de música, são duas as canções que sempre se destacaram mais entre todas as outras que têm acompanhado a nossa história e serem consideradas hinos, "Hijos del pueblo" (Filhos do povo) e "A las barricadas!" (Às barricadas!).

"Hijos del pueblo" parece ser de 1885 e foi composta pelo tipógrafo Rafael Carratalá Ramos. A verdade é que teve um tremendo êxito nos círculos obreiros da Primeira Internacional e passou a se tornar (juntamente com a "Internacional"), como canção referência para os socialistas anti-autoritários.

"A las barricadas!", por seu lado, é uma versão de "Warszawianka" ou "Varsoviana", canção composta na prisão pelo poeta polaco Wacław Święcicki, em 1883.

Diferentes versões de "la Varsoviana" tornaram-se populares em toda a Europa, em solidariedade com o movimento obreiro polaco, que lutou duramente pelos direitos dos trabalhadores e contra a ocupação russa.

Em novembro de 1933, foi publicada a partitura no jornal "Tierra y Liberdad", em Barcelona, com letra de Valeriano Órobon Fernandez e arranjos musicais para coro de Angel Miret.

Aquela versão foi intitulada "Marcha triunfal. A las barricadas!" e pouco tempo depois ganhou em popularidade ao tradicional "Hijos del pueblo".

Ambas as músicas foram gravadas em 1936 pela Orfeão Catalão de Barcelona, sob a direção de Francesc Pujol.

No caso dos "Hijos del pueblo", com uma letra diferente da original de 1885, mais curta e voltada para o confrontação bélica.

O projecto de "restauração"

As gravações das duas canções que chegaram até nós têm um grande valor histórico, mas, infelizmente, muito baixa qualidade sonora. Apesar disso, elas ainda são usadas porque não existia nenhuma versão "restaurada".

Para marcar o centenário da CNT, foi colocado sobre a mesa uma velha idéia: a regravação de "Hijos del pueblo" e "A las barricadas!".

O primeiro passo foi tentar localizar as partituras, por isso fomos à Fundação Anselmo Lorenzo, esperando que estivessem depositadas nos seus arquivos. Infelizmente, fomos informados de que, se ainda existiam, estavam desaparecidas, provavelmente perdidas ou destruídas no fim da guerra.

Mais tarde, pusemo-nos em contato com o jornal "Tierra y Liberdad" que nos deu uma extraordinária alegria: tinham as partituras!

Enviaram-nos as partituras de "Marcha Triunfal. A las barricadas!" de 1933 e duas de "Hijos del pueblo", a versão original e a de 1936.

Comprovamos que só existia uma partitura para voz e piano, faltava a orquestração. Isso significava que tinha que se voltar a reconstruir a partitura geral completa, ou seja, as vozes de cada instrumento e do coro.

Tivemos uma reunião com os companheiros Carmen Gutierrez Aira, professora do Conservatório de Bilbao e Kepa Bermejo, membro do coro de Ensanche, onde arranjamos as partituras e gravações, e explicamos o projeto.

Compôr e gravar

Através de Carmen Gutiérrez Aira, no início de abril, o compositor Juan Manuel Yanke começou a trabalhar com os limitados materiais que lhe fornecemos.

O trabalho de Juan Manuel Yanke foi sem dúvida o mais importante na concretização deste projeto. Foram incontáveis as horas de esforço pessoal de maneira completamente desinteressada para dar voz a cada um dos instrumentos.

No caso dos "Hijos del pueblo" foi inspirado na gravação de 1936, com uma longa introdução musical à qual acrescentou o seu toque pessoal sinfônico antes da contundente entrada do coro, cantando a letra original de 1889.

A sua versão de "A las barricadas!" surpreenderá sem dúvida pelas suas diferenças em relação à gravação de 1936. Juan Manuel Yanke faz na introdução toques especiais às versões em alemão e russa de "La Vvrsoviana" com a entrada do coro suave e escalonada. Após uma pausa, todas as vozes se incorporam em pleno vigor.

Há algumas reviravoltas melódica e rítmica diferentes da versão gravada em 1936 e tem a sua explicação: a partitura em que ele se inspirou é anterior à que utilizou o Orfeão Catalão, pelo que podemos considerar que temos recuperada a versão original.

Temos de agradecer o trabalho árduo dos companheiros José Martin Alvarez, editando a partitura e partes separadas, fazendo correções e participando como músico na orquestra. Carmen Gutierrez, concertista na frente da orquestra, coordenadora e produtora musical. Luis Gamarra, dirigindo o coro e a orquestra dos primeiros ensaios. Mario Clavell Larrinaga, que além de tocar flauta, ajudou em todos os assuntos relacionados com as necessidades da gravação. E todo o coro, que tem atuado, literalmente, "por amor à arte".

Além disso, Juan Manuel Yanke teve a generosidade suficiente para ceder desinteressadamente à CNT os direitos sobre as composições.

Após vários meses de trabalho árduo, compondo, escrevendo, organizando, reunindo músicos e cantores de diferentes corais... depois de largas horas de testes e correções, em 14 de novembro de 2009 teve lugar a gravação final no Conservatório "Juan Crisostomo de Arriaga" de Bilbao.

Duas versões de cada canção, coral e instrumental, coro misto com 23 pessoas, diretor e equipe de gravação.

O resultado será editado em breve em CD, com uma faixa de vídeo com o "Making of" realizado pelo companheiro Victor Gonzalez Rubio, diretor de cinema.

Em conclusão, é de notar que, no caso de "A las barricadas!" é a primeira gravação com orquestra e coro desde 1936.

A recuperação dos "Hijos del pueblo" é ainda mais emocionante porque nunca havia sido gravada, nestas condições, com a letra original.

Um lindo acto de memória histórica que não se desvanecerá.

"A las barricadas" - 2010


"Hijos del pueblo" - 2010

Tradução > Liberdade à Solta

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