quarta-feira, 14 de julho de 2010

Veredicto do julgamento dos detidos na manif anti-autoritária de 25 de Abril de 2007

Chegou hoje ao fim o julgamento dos 11 detidos (entretanto uma rapariga infelizmente faleceu) na manifestação anti-autoritária contra o fascismo e contra o capitalismo, de 25 de Abril de 2007.

Por ausência de prova, prova em contrário ou dúvida, o tribunal deu como não provados os actos apresentados pelo Ministério Público que eram por esse atribuídos aos arguidos e que se podiam enquadrar nos crimes de ofensa à integridade física agravada qualificada, injúria agravada e coacção e resistência sobre funcionário. Assim, todos os arguidos foram absolvidos de todas as acusações.

Indymedia


terça-feira, 8 de junho de 2010

[Grécia] Algumas Notícias

Supermercado é expropriado

Ontem, segunda-feira, 7 de junho, um coletivo chamado os “40 ladrões, mas sem Ali Babá”, expropriou um supermercado da rede "My Market”, no subúrbio ateniense de Egaleo. O material expropriado, basicamente produtos de necessidades básicas, foi distribuído numa praça popular do bairro.

Em Larissa, quatro anarquistas estão sendo processados por terem expropriado um tempo atrás um supermercado, o julgamento deve acontecer em dezembro de 2010.

Novo espaço ocupado em Tessalônica

Neste último sábado, 5 de junho, foi ocupada a “12º Escola Primária”, um amplo imóvel que estava abandonada há anos em Tessalônica. O objetivo desta nova ocupação é a criação de uma Escola Auto-organizada e Libertária. Durante o final de semana, sábado e domingo, foi realizada uma jornada de apresentação do projeto e reabilitação do local, com um mutirão de limpeza, discussões sobre pedagogia libertária e uma festa. Diversas pessoas compareceram no evento, inclusive muitos vizinhos e crianças.

Fotos:

http://athens.indymedia.org/front.php3?lang=el&article_id=1181330

http://athens.indymedia.org/front.php3?lang=el&article_id=1181532

Policiais que mataram Alexis são soltos

Depois de 18 meses em prisão preventiva os policiais Epaminondas Korkonéas, 38 anos, e seu colega, Vassilios Saraliotis, de 32 anos, que assassinaram Alexis Grigoropoulos em 6 de dezembro de 2008 no centro de Atenas, foram soltos na madrugada do último domingo, 6 de junho.

Festival do livro libertário em Tessalônica

De 2 a 5 de junho aconteceu o 1º Festival do Livro Libertário de Tessalônica. Além das banquinhas de livros e outros materiais, o evento contou com uma série de palestras e discussões, sob o mote “crise, resistências e utopias”.

Liberdade para Pawlak Michal

Michal Pawlak é um anarquista da Polônia que foi preso na Grécia em 6 de dezembro de 2009 durante as manifestações de um ano do assassinato de Alexis Grigoropoulos e a revolta que se seguiu. Desde então ele permanece na prisão aguardando julgamento. Como é de costume nestes casos, ele foi acusado pela polícia grega com base em evidências infundadas e circunstanciais, como por exemplo, a sua camiseta que tinha um slogan anti-polícia escrito por ele. Nas próximas semanas um conselho de juízes decidirá se ele permanecerá na prisão.

Para enviar cartas:

Michal Pawlak

Pteriga A

Filakes Koridallou

18110

Koridallos, Athens

Grécia

agência de notícias anarquistas-ana

fim de caminho
o pôr-do-sol começa
dentro de mim.

Luciana Bortoletto

sexta-feira, 4 de junho de 2010

[Lisboa] Acerca da quantidade e da qualidade


No sábado, 29 de Maio, houve uma manifestação em Lisboa convocada pela CGPT contra o governo e as medidas de austeridade que ele está a adoptar. Houve uma presença massiva (fala-se de 300 mil pessoas), com os números obviamente a não significarem nada. Não se via um único polícia de intervenção, e isto não apenas porque a CGPT tem o seu próprio serviço de ordem (seguranças), mas principalmente devido ao auto-controlo das pessoas, gerado por décadas de lavagem cerebral e controlo por parte dos sindicatos do mínimo sinal de descontentamento.

Assumindo que as ruas e os sentimentos de revolta não são propriedade dos sindicatos, convocou-se uma concentração anti-capitalista, na qual apareceram cerca de 50 anarquistas e anti-autoritários. Este grupo, levando consigo uma faixa onde se lia “o capitalismo não se reforma, destrói-se” e outras, decidiu a dada altura fazer a sua própria marcha aparte da manifestação oficial, gritando palavras (muitas das quais haviam aparecido pintadas em paredes em diferentes zonas de Lisboa na noite anterior) como “contra a máfia sindical, guerra social”, “sabotagens e greves selvagens”, “contra o estado e o capital, guerra social”, “a liberdade está nos nossos corações, abaixo os muros de todas as prisões” e “ansiosos pela nossa liberdade, destruiremos toda a vossa sociedade”. Com frequência estas palavras começavam a ser também gritadas por pessoas que participavam na manifestação oficial (a da CGPT).

A certa altura, o grupo decidiu entrar na marcha oficial, e imediatamente os “gorilas” sindicais (seguranças), ajudados por polícias à paisana, empurraram-nos dizendo que não iríamos entrar. Nessa altura, outras pessoas (participantes na marcha oficial) começaram a gritar contra esses controladores. Após algumas escaramuças e ameaças, o grupo lá conseguiu entrar um bocado à força. Depois, e porque para muitos de nós tínhamos entrado na marcha oficial não para participar no circo político, mas para recusarmos na prática estarmos a receber ordens sobre o que é que podíamos ou não fazer, decidimos simplesmente sair novamente dessa marcha.

Depois de a manif ter terminado, numa rua de calçada e “muito pitoresca” ali ao lado (rua das Portas de Santo Antão), cheia de cafés e restaurantes repletos de turistas, tinha aparecido um carro da polícia que estava a meio da rua e havia um homem nos seus 50 anos que estava a ser levado detido algemado. Pessoas indignadas tinham rodeado o carro e alguns companheiros, que iam a caminho de comer umas batatas fritas, juntamente com todas as outras pessoas presentes (cerca de 10 nessa altura), tentaram fazer com que o homem não fosse levado para a esquadra. Alguns assobios e aparecem mais uns 10 companheiros, vindos da praça contígua onde estavam a passar o tempo. Mais pessoas também se foram juntando, e a dada altura havia já cerca de 50 a 60 pessoas a gritar contra os polícias para que deixassem o homem em paz e a chamarem-lhes fascistas. Apareceu outro carro da polícia (a esquadra é logo ali ao virar da esquina) e por essa altura o detido tinha sido metido dentro do carro, o que irritou ainda mais a multidão. Não se podia permitir que os bófias levassem a sua presa.

Chegou então uma equipa de polícias de intervenção rápida vindos da avenida paralela, e finalmente puderam expressar-se: encontraram ali a oportunidade de descarregar em toda a gente. Um deles ostentava uma shotgun de balas de borracha (bom, deviam ser de borracha) e todos eles ficaram completamente loucos, batendo desenfreadamente em toda a gente que apanhassem à frente. Felizmente, algumas cadeiras das esplanadas foram mandadas contra eles, assim como algumas garrafas. No meio desta situação, alguém ouviu uma velhota a dizer “isto é o futuro”.

A multidão foi para a praça que está no final dessa rua (a da Ginginha), um ponto de encontro para muitos imigrantes que aí estavam a passar o tempo, à medida que mais polícias de intervenção chegavam e formavam linhas para proteger os outros. Nesta altura encontravam-se já cerca de 200 ou mais pessoas diferentes a gritar contra os polícias e a certa altura gritava-se em uníssono “ninguém gosta de vocês”. Os polícias recuaram para uma rua que dá acesso à esquadra, de escudos apontados para a multidão (e com a shotgun lá no meio), recuando ao som de insultos.

Por um lado, um gigantesco exército de centenas de milhares de sindicalistas disciplinados, cada um carregando a sua bandeirola; uma marcha de morte, poder-se-ia dizer. Por outro, um simples momento social de um cliente insatisfeito num café e de algumas pessoas com a clareza de se protegerem umas às outras do inimigo. Um momento que esteve possivelmente a um sopro de se transformar num motim fora de controlo, que se poderia ter alargado aos muitos imigrantes, companheiros e pobres que estavam naquelas ruas e que por ali costumam andar. Uma massa de indivíduos excluídos de qualquer representação e da lógica reformista.

O futuro está por se escrever. Momentos de rebelião alimentam-se de momentos de rebelião e de sentimentos de revolta e de alegria. O controlo será cada vez mais difícil de impor, e os seus bastões metem-nos cada vez menos medo.

Não beijes a mão que te bate. Morde-a!

Retirado de: Indymedia PT

quinta-feira, 3 de junho de 2010

[Grécia] Animação para aliviar tensão

Há algum tempo que a Grécia é grande inspiração para muitos de nós. Desde os acontecimentos de Dezembro de 2008 que tem aumentado gradualmente as notícias que nos mostram que ainda há saída e esperança. Em homenagem a isso alguns companheiros fizeram uma pequena animação que aqui fica.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O protesto, o burocrata e a carga

Milhares de pessoas juntaram-se ontem no marquês de pombal, em protesto contra as medidas de austeridade impostas pelo actual governo. Privatizações, diminuição de apoios sociais (nomeadamente para os mais necessitados), ou congelamentos salariais foram algumas das políticas denunciadas pelas pessoas que participaram na manifestação convocada pela CGTP, desde o jovem «falso recibo verde» à metalúrgica sob ameaça de despedimento colectivo.

O protesto ficou marcado por pequenas escaramuças entre alguns manifestantes e o serviço de ordem da CGTP – composto por seguranças profissionais – que controlavam o acesso à avenida da liberdade. Alguns elementos do serviço de ordem da CGTP, questionados pelo Indymedia, afirmaram que o "grupo" podia integrar a manifestação mas que, dado que não tinha havido um contacto prévio, o grupo só poderia entrar no final das organizações sindicais e outras apoiantes (partidos incluídos)A vontade dos primeiros, contudo, conseguiu vencer os ímpetos autocráticos dos segundos.

Já após o final da manifestação, na rua das portas de santo Antão, a tentativa de detenção de uma pessoa por parte da PSP, alegadamente por não ter pago um café, originou protestos. As autoridades, sem qualquer pré-aviso, carregaram sobre as pessoas que se encontravam na rua (manifestantes, turistas, clientes dos cafés e transeuntes), tendo provocado alguns feridos. Grande parte dos agentes não se encontrava identificado.

Retirado de: Indymedia PT

sexta-feira, 28 de maio de 2010

[Grécia] Os assassinos de Alexandros Grigoropoulos vão ser libertados

Os dois membros da força especial da policia, Epaminondas Korkoneas e Vasilis Saraliotis, que assassinaram o jovem Alexis de 15 anos dia 6 de Dezembro de 2008 vão ser libertados em condicional nestes próximos dias. Isto porque o tempo máximo de prisão preventiva (18 meses na Grécia) antes de um julgamento termina dia 6 de Junho. Especula-se que as medias de coacção serão o impedimento de sair da cidade de Amfissa onde decorre o julgamento.

Noutros casos, no passado o processo foi acelerado para que os acusados não deixassem a prisão preventiva mas esta visto que isto não é mais um caso normal...

Fonte: Ocuppied London

sábado, 22 de maio de 2010

Exércitos nas ruas

Pela primeira vez na história, a maioria da população mundial vive em cidades. Grande parte desta gente vive em condições de absoluta miséria. Um em cada três habitantes citadinos vive em bairros de lata, num total de quase mil milhões de pessoas, números com tendência para duplicar até 2030. Este processo é o corolário lógico dum modelo baseado na conquista de todos os recantos do planeta para a esfera de influência do capital, nomeadamente o financeiro, que estende à escala planetária a atracção e a repulsa da mão de obra. Assim, a sobrepopulação relativa é atraída ou rejeitada, de acordo com a concentração de capital nas diversas áreas do mundo.

Nos locais onde se concentra, tenta, por todos os meios, aumentar ao máximo a sua própria rentabilidade. Quando as condições não lhe são tão favoráveis, não se inibe em zelar para que se alterem. É o que se passa neste momento, em que a folia financeira conheceu alguns limites, o que, num mundo dividido entre capital e trabalho e baseado na necessidade de crescimento eterno, só pode significar que a corda parte do lado do segundo para a manutenção da prosperidade do primeiro.

E temos, assim, por um lado, massas enormes de pessoas a deslocarem-se à mercê das “necessidades do mercado”, rompendo com as suas terras e raízes e, por outro, a pressão para que todas as protecções sociais se evaporem. De forma a que sejamos todos apenas mais um do enorme exército de escravos que as altas finanças precisam para sobreviver. A expansão terminou e só o crescimento da miséria permite fazer face à situação.

Há mais de dez anos que o Banco Mundial tornou público que sabe que as coisas se processam desta maneira: “A pobreza urbana chegará a ser o problema mais importante e politicamente mais explosivo do próximo século” (documento de trabalho do grupo de investigação Finanças e Desenvolvimento, Banco Mundial, Janeiro 2000). Também já não escondem que o sonho da “prosperidade para todos” que nos venderam se revelara falso, a acreditar nas palavras do insuspeito Joseph E. Stiglitz, ex-chief economist e senior vice president do mesmíssimo Banco Mundial: “Apesar das repetidas promessas de reduzir a pobreza feitas nos últimos dez anos do século XX, o número efectivo de pessoas que vivem na pobreza aumentou quase cem milhões” ( Joseph E. Stiglitz, La globalizzazione e i suoi oppositori, Einaudi, Torino, 2003, p. 5).

Ao invés de pensarem em alterar o modelo para inverter a tendência, os seus responsáveis decidiram, como sempre, tratar de se protegerem das consequências. À esquerda e à direita, nos “países desenvolvidos” e nos “em desenvolvimento”, a simples presença duma força de trabalho sem rendimentos mas com as mesmas necessidades básicas de todas as outras pessoas é um pesadelo vivo. O medo provocado pelas reacções destes “fora do sistema” é imenso e provoca a mesma reacção securitária. Mais polícias, mais prisões, videovigilância, produção contínua de emergências, muros, torniquetes, registo biométrico, armas neutralizantes. Eis a resposta.

Quando o quadro se alarga, a panaceia revela-se global. A Nato, no seu relatório Urban Operations in the Year 2020 (elaborado pelo grupo de estudos SAS 30 – onde participam, desde 1998, experts do Canadá, Itália, França, Alemanha, Reino Unido, Holanda e Estados Unidos – e tornado público em 2003) reconhece que a tendência para que se produzam tensões ligadas à existência de bairros de lata e condições de pobreza “poderia crescer significativamente no futuro, conduzindo a possíveis sublevações, desordens civis e ameaças à segurança que imporão a intervenção das autoridades locais”.

O que está em jogo, então, é apenas a capacidade das forças militares administrarem situações de conflito assimétrico, onde o inimigo não é um exército regular, mas uma massa heterogénea de “irregulares”. Por outras palavras: na crescente periferia metropolitana, quanto mais o inimigo se torna interno, mais impossível se torna enfrentá-lo com os métodos tradicionais dos bombardeamentos e da destruição integral das cidades, uma vez que o bairro de lata fica mesmo ao lado do condomínio fechado que se pretende proteger.

É um passo lógico nesta guerra civil global que se vai desenrolando e adaptando às características de cada terreno particular. A realidade europeia não se pode comparar à do Afeganistão, Iraque ou Haiti, mas tomemos o exemplo de L'Áquila, cidade italiana vítima dum terramoto devastador, em 2009, para se ver que não estamos, afinal, assim tão distantes. Depois do sismo, a máquina militar entrou rapidamente em acção, ocupando o território e experimentando técnicas de guetização da população em campos de refugiados fechadíssimos, com regras internas tão severas como absurdas. Não era permitido cozinhar, nem utilizar a internet ou consumir excitantes (café, vinho, chocolates), nem reunir-se para debater. As pessoas foram transformadas em escravos de laboratório, depois de despojadas de tudo pela força da natureza e pelas más construções com origem na ganância dos construtores, os mesmos que, agora, lucram com a reconstrução. O Terceiro Mundo, como coisa distante, deixou de existir. O Terceiro Mundo é aqui.

Para os mais descrentes, recomenda-se a leitura do Anexo E do relatório Urban Operations in the Year 2020, onde se simula uma operação da Nato num teatro de operações no qual as “cidades de interesse estratégico” não são Teerão nem Cabul mas as francesas Rouen, Le Havre, Evreux e Dieppe.

O inimigo é cada vez menos um exército convencional e cada vez mais uma entidade informal de guerrilheiros urbanos, massas completamente desapossadas, formações “terroristas” e também grupos menos organizados como os que emergem em situações insurreccionais. O controlo preventivo e a repressão de sublevações ou insurreições serão cada vez mais uma prerrogativa dos exércitos, que passará a ter funções de verdadeira polícia territorial, ao mesmo tempo que esta se militariza.

É este o quadro de fundo da teoria do estado de guerra permanente que se tem vindo a definir nos últimos vinte anos, uma teoria que parece feita especificamente para levar a cabo uma guerra global de baixa intensidade contra as franjas mais desesperadas da humanidade, a ter lugar nas periferias esfomeadas, independentemente de onde se situem. É esta a base que sustém o novo conceito estratégico da Nato, que será assinado em Novembro, na cimeira da Aliança Atlântica que se realizará em Lisboa. Atente-se a duas citações do documento Análises e recomendações do grupo de experts sobre um novo conceito estratégico para a Nato:
Dado o carácter de mudança e de crescente variedade de perigos para os estados membros, os Aliados deveriam fazer um uso mais criativo e regular das consultas autorizadas pelo artigo 4 (o Artigo 4 diz que os aliados se devem consultar “quando, na opinião de qualquer um deles, a integridade territorial, a independência política ou a segurança de alguma das Partes está ameaçada”)
e
O conceito estratégico deverá incluir uma declaração clara de prioridades de defesa. Estas começam com a capacidade de defender o território da Aliança, mas incluem a capacidade de levar a cabo missões exigentes a uma distância estratégica, ajudar a moldar a paisagem de segurança internacional, e responder a contingências imprevistas quando e onde for necessário. O Nível de Ambição (Level of Ambition ) oficial da Nato foi criado em 2006; não há necessidade de modificar esse enquadramento, apesar da definição da missão poder ser alargada de forma a incluir novas exigências para a segurança interna.

“Uma das armas do capital consiste no facto da população, proletariado incluído, não imaginar até onde o Estado avançará com a guerra civil”, escrevia Jean Barrot no distante ano de 1972. A tomada de consciência do nível a que o Estado está disposto a chegar com a guerra civil, consciência que ilumina os olhos dos putos palestinianos que atiram pedras ao tanque ocupante e que incendeia as ruas gregas, continua a faltar por aqui, adormecidos que andamos pelo sonho do “agora é que vai ser” e acomodados pela moral do “esperemos que não me toque a mim”.

Retirado de: Indymedia Portugal

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Comunicado da Feira do Livro (A)

A nossa solidariedade vai para aqueles que se mantêm a lutar sem fazerem cedências, nestes momentos em que os poderosos tratam de instaurar o medo.

A Feira do Livro Anarquista vai começar agora, num espaço diferente do que tínhamos planeado, e gostaríamos de reforçar o convite àqueles que sintam afinidade em relação a uma postura de confronto e rebeldia perante este sistema.
Enquanto inciativa declaradamente anarquista, a Feira do Livro Anarquista também está a sentir a pressão que os meios estatais e mediáticos andam a exercer para criminalizar e isolar qualquer grupo ou iniciativa anti-autoritária.

São tempos assumidamente repressivos para quem está assumidamente em luta contra a exploração e a miséria.

Seja pela presença da polícia a impedir concertos ou por artigos de jornalistas que, de uma maneira já tão curriqueira, se lembram de fazer acusações a mais uns quantos, estamos conscientes de que nos tocou a nós, como tantas vezes tocou a quem luta de forma autónoma, seja em bairros pobres, seja quem não se limita apenas aos modelos de protesto "autorizados".1

Apesar das diferenças nas posições e ideias de cada umx, entre as pessoas que fazemos a feira do livro partilhamos uma descrença total neste sistema político, governamental e social.
Não queremos este mundo tal como está organizado, com as suas classes sociais e esta suposta paz, as hierarquias e o poder omnipresentes, os racismos e segregações, estes centros urbanos e a destruição da natureza...
É à volta de temas como estes que nos queremos juntar, num encontro que tem como ponto de partida os livros, porque continuamos a dar importância à palavra escrita como ferramenta de comunicação e ataque!

alguns indivíduos que constróem a F.L.A.

1- A título de exemplo, temos as notícias nos media a alertar sobre o perigo social e a mencionar medidas de vigilância em bairros pobres como a Bela Vista, porque até se esrevem agora frases contra a polícia na parede (!), quando na verdade se baseiam numa frase escrita no centro da cidade de Setúbal (!) há mais de 3 meses! E basta relembrar as recentes notícias sobre o blog Rede Libertaria, que mencionavam outros grupos que estão também sob vigilância apertada, "como os camionistas ou as associações anti-scut".

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Feira do Livro Anarquista, dias 21, 22 e 23 de Maio, B.O.E.S.G. - Santos, Lisboa

A Feira do Livro Anarquista mudou de espaço e vai-se realizar na BOESG
Biblioteca dos Operários ou Biblioteca e Observatório dos Estragos da Sociedade Globalizada
Rua das Janelas Verdes, 13-1ºesq.
Santos



domingo, 16 de maio de 2010

[Polónia] Fodam-se as bandeiras! Liberdade para os activistas gregos e polacos presos!

[Abaixo infos relativas à prisão de ativistas gregos e polacos na seqüência de uma concentração em frente à embaixada da Grécia em Varsóvia, em 12 de maio passado.]

Em 12 de maio, um piquete foi realizado na frente da Embaixada da Grécia em Varsóvia, em solidariedade com as lutas sociais na Grécia. O protesto foi acompanhado por um grupo de aproximadamente 10 pessoas gregas que vivem na Polônia. Na ação uma faixa foi pendurada na embaixada. Além disso, as bandeiras da Grécia e da União Européia, que estavam hasteadas em postes em frente ao prédio foram retiradas e bandeiras negras içadas em seu lugar.

Após o protesto, a polícia perseguiu um grupo de pessoas que estava num parque. Seis ativistas gregos e polacos foram presos e continuam detidos. A polícia ainda está tentando "investigar" o incidente, mas eles acusam os manifestantes de roubo [a bandeira] e participação em uma manifestação ilegal, com a intenção de cometer um crime. “Expropriar” [sic] uma bandeira pode dar até um ano de prisão na Polônia.

A polícia não tem sido muito “cooperativa” nem para dar informações [sobre os presos] nem para permitir que um advogado possa ver os detidos.

Em relação a isto, um piquete de solidariedade de emergência foi organizado durante o dia, em frente ao “Palácio da Polícia”.

Em conseqüência, um porta-voz da polícia finalmente acabou por aparecer e dar muito poucas informações, prometendo que alguém, pelo menos, receberia informações sobre a situação, a detenção ou libertação dos companheiros.

Amanhã [14 de maio], novamente, vamos tentar enviar assistência jurídica aos presos e talvez organizar uma concentração maior, se eles não forem liberados. Pode ser um problema, para os estrangeiros detidos na Polônia, porque a polícia considera que há um risco de fuga [da Polônia].

Na prática, casos semelhantes como este no passado resultaram em pelo menos três meses de "prisão preventiva" e uma fiança de 20.000 euros!

Última hora

Todos os detidos foram libertados na noite de sexta-feira (14), por volta das 22h, aparentemente sem nenhum cargo.

Tradução > Liberdade à Solta

agência de notícias anarquistas-ana

Suave crepúsculo
Sol emoldurando o ocaso
O pássaro sonha

Tânia Souza

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Em relação à tentativa de criminalização da Rede Libertária

Cabe, em primeiro lugar, esclarecer uma vez mais que a Rede Libertária não é um colectivo, nem um partido, nem um grupo armado (!). Não tem fileiras, nem militantes, nem sedes, nem estrutura física nenhuma.

É uma ferramenta, que, através da internet, serve para aproximar pessoas que desenvolvem projectos afins ao anarquismo e serve também para comunicar publicamente as actividades que se vão fazendo, assim como, divulgar notícias que nos pareçam relevantes.

A Rede Libertária jamais poderá, portanto, ser uma organização que se desloque a manifestações ou receba financiamentos como, imbecilmente, o Correio da Manhã e a SIC referem.

Sim, no blog da Rede Libertária apareceu publicada uma imagem que criticava a imunidade e a inutilidade das figuras políticas portuguesas, perante a evidente injustiça social deste sistema.

Essa imagem foi publicada em tom de sátira.

É abusivo, por isso, ter ocorrido uma rusga a uma casa privada, a apreensão de material informático e a acusação à pessoa em causa por "incitação à violência"!

Reiteramos o que foi dito em resposta a essa situação anterior: "O disparar para todos os lados da PJ acertou, aleatoriamente, num indivíduo que nada tem a ver com o projecto da Rede Libertária e, mesmo se tivesse, é pidesca a forma como a polícia entra, remexe, vasculha, leva o que bem lhe apetece, quando bem lhe apetece, como bem lhe apetece, sempre com o selo branco do Estado."

O que mais revela a ignorância e falsidade destas notícias é precisamente o desconhecimento quanto ao termo Libertário ou Anarquista.

De uma vez por todas, a extrema-esquerda faz parte do espectro político existente, feito de partidos e governos. Ser anarquista, por definição, representa não querer partidos políticos a governar, quaisquer que sejam. É não acreditar na necessidade da existência de um estado ou qualquer outra forma de poder hierárquico.
Logo, não somos de esquerda nenhuma!

Como tal, é evidente que não temos o objectivo de ameaçar um determinado presidente ou 1º ministro. Não queremos a existência desses cargos, por mais ou menos liberal que seja o político que os ocupe. Lutamos pela nossa auto-organização, sem estruturas de autoridade, pelo que é ridículo tentarem incriminar-nos pelo facto de estarmos contra este ou aquele governante em específico.



A Rede Libertária e seus visitantes gostariam de saber:


O que é que terá motivado esta nova onda de notícias sobre este caso que aconteceu em Setembro de 2009?


Porque é que se encara este post enquanto "ameaça explícita de morte"?


Porque é que se invoca a manifestação de 2007 especificamente, quando existem diversas noticias publicadas sobre os mais diversos assuntos no blog da Rede ?


Porquê esta tentativa de ligação entre eventos e informações tão distantes??

E porque raio é que uma notícia com tão pouco conteúdo que não seja especulativo aparece em, pelo menos, dois jornais de grande tiragem e um canal de televisão?


Em tempos que cheiram a ditadura,
contra esta e outras formas de opressão,

RedeLibertária.

Para mais informações contactar: redelibertaria@yahoo.com

Podemos!

[“Os e as que somos e que estamos aqui para inventar a resistência contra a onda de fascismo que nos impõem, necessitamos da solidariedade de cada um e de cada uma, de todos e todas na Europa e no mundo que sejam companheiros e companheiras. Trata-se da nossa vida, da nossa dignidade, da vossa vida e da vossa dignidade”.]

Ninguém, absolutamente ninguém das centenas de milhares dos e das manifestantes que estávamos hoje nas ruas da Grécia sabe como começar a escrever uma noticia sobre o que hoje significa e é para a Grécia tudo isso.

Por onde começar? Pelos momentos da manhã em que um rio raivoso de manifestantes percorreu todas as cidades da Grécia? Pelo cerco militar (porque exército aqui são os corpos policiais) que sofre a cidade de Atenas nestes momentos da noite, com a polícia invadindo com toda a sua barbaridade as ruas, as ocupações, os cafés de Exarchia, os locais da juventude, as sedes de grupos políticos, as casas? Pela morte trágica dos três empregados do Banco Marfin, que selou este dia que era tão decisivo para o povo grego (e os outros povos europeus); um dia tão importante porque ao fim a raiva saiu às ruas em manifestações tão multitudinárias que nem no Dezembro de 2008 havia vivido a Grécia?

Quiçá, quando se perdem três vidas é justo que isto seja a noticia a destacar. Mas não é justo - e mais que isso: é mesmo imoral - o que desde há algumas horas o governo grego está fazendo e sua polícia, os políticos dos grandes partidos e os seus massivos meios de comunicação estão fazendo, aproveitando-se da trágica morte dos três empregados do Banco Marfin, fazem uma "caça às bruxas", culpando todo um povo que se recusou a aceitar as ordens dos de cima que o condenam a uma vida sem futuro digno e sem esperança.

A pergunta “O quê ou quem obrigou os empregados do Banco Marfin a trabalhar enquanto percorria a rua Stadíou uma manifestação multitudinária e raivosa, com a sua ira concentrada nos bancos?”, circula na boca de todos e de todas. A resposta é fácil: o mesmo sistema que, amanhã, vai obrigar a todas e todos a baixar a cabeça pelo medo de perder o seu trabalho precário.

Muito poderíamos dizer (e já se disse aqui) sobre as condições da morte das três pessoas que a direção do banco proibiu de sair do trabalho deixando-os encerrados num edifício onde não havia saída de emergência e não funcionavam os sistemas de segurança contra incêndios. Neste momento limitamo-nos a traduzir um fragmento do comunicado do Sindicato dos Empregados Bancários que decretou uma greve para amanhã (6 de maio) nos bancos:

“...o que ceifou as vidas dos nossos companheiros de trabalho é a conseqüência trágica das medidas antipopulares que aumentaram a revolta do povo e o protesto de centenas de milhares de trabalhadores. Os responsáveis terão de pagar com toda a severidade. Mas também existem autores morais deste delito... que estão na política do governo, nas ações da polícia e nos Diretórios dos Bancos que chantageiam os empregados e não lhes permitem a participação nas moblizações e os quais com uma irresponsabilidade incrível nunca tomam as medidas necessárias nas sucursais bancárias que sempre são os objetivos da revolta em todas as marchas obreiras e nas manifestações”.

Hoje tudo era possível...

É impossível que alguém possa fazer retroceder o tempo e regressar aos momentos anteriores às 2h30, em que se deu a conhecer a morte das três pessoas. Mas aqueles momentos existiram. E eram momentos magníficos. E também devemos contá-los. Devemos informar e comunicar a todo o planeta porque hoje na manifestação de Atenas jogou-se o futuro de um povo inteiro.

Se não tivesse passado o que se passou, amanhã o Parlamento grego - quem sabe, ninguém o sabe - não ia PODER votar a favor do acordo com o FMI. Tudo estava em aberto hoje: as pessoas caminhavam decididas a cercar o Parlamento, ficar todo o dia e toda a noite nas ruas para pressionar tudo que fizesse falta, estavam decididas a tentar invadir, uma e duas ou três vezes o Parlamento. Era como um gigante adormecido despertasse de repente e nem a repressão nem os gases lacrimogêneos poderiam impedi-lo.

Caminhavas pela manifestação e por todos os lados se respirava esta decisão: “não vai passar”. Não era um slogan, era uma decisão O slogan “se não podem governar, vão se embora já, vão se fuder”, escutava-se de pessoas de quem nem se esperavas e se transmitia como um raio por toda a manifestação levantando uma onda de entusiasmo que somente podes viver quando a multidão nas ruas está em sintonia, como um coração coletivo.

Tudo estava em aberto e era possível hoje, porque quem estava nas ruas já sentia que o medo de estar ali já era coisa do passado. E não é pouco isto: já passaram seis meses inteiros que dia a dia, momento a momento, minuto a minuto, nos impregnavam, gota a gota, o medo. Dormíamos cada noite com raiva, com um nó na garganta - porque já conhecíamos a hipocrisia -, e despertávamos com o medo no coração. Porque não conhecíamos o que viria com o amanhecer: íamos amanhecer com os bancos fechados? Com os nossos salários e economias roubados? Com o país em quebra? Não conhecíamos como ia amanhecer o dia para nós. Para cada um e cada uma e para um povo inteiro.

E putos de tantas análises sobre os motivos da crise, chateados pelos números dos milhões de milhões de euros, nos despertamos um dia dando-nos conta que nós - os de baixo - íamos pagar a conta dos de cima.

Era, e é, tão simples e tão terrível: o FMI e países da União Européia iam emprestar -EMPRESTAR - à Grécia tantos e tantos milhões de euros (140.000.000) a um interesse de 5%. Para a Grécia pagar a sua dívida aos bancos alemães, franceses, ingleses, gregos, espanhóis etc... por um interesse que superava os 7%. E isto tínhamos - teremos - que pagar nós: um povo humilhado a quem utilizam como cobaia para provar no seu corpo o que sobretudo lhes interessa: se podem fazer passar aos povos europeus - com leis e consenso adquirido pelo medo - a flexibilidade e a precariedade no trabalho. Para ganhar mais e mais. Assim, tão simples. E eles, os de cima, acreditavam que já tinham ganhado o jogo. Todavia não sabemos se ganharam, mas as manifestações de hoje na Grécia mostraram - e eles já sabem - que as “ovelhas-cobaias” PODEM desviar-se da sorte que lhes reservam os pastores: a do massacre.

Hoje na Grécia tudo está aberto: se a manipulação pela desgraçada perda das três vidas lhes servirá - como querem - para impor, outra vez, o medo e o silêncio a sociedade, é o que veremos nos próximos dias. Nós continuaremos sem conhecer o que nos espera. Mas também conhecemos duas coisas, que as manifestações de hoje as gritaram: somos muitos os e as que não vamos ficar calados, somos muitos os que hoje superamos o medo. E: os e as que somos e que estamos aqui para inventar a resistência contra a onda de fascismo que nos impõem, necessitamos da solidariedade de cada um e de cada uma, de todos e todas na Europa e no mundo que sejam companheiros e companheiras. Trata-se da nossa vida, da nossa dignidade, da vossa vida e da vossa dignidade.

Está em jogo o sonho comum: estamos num momento crucial. Vamos construir esse novo mundo? Passa a resposta também pela solidariedade (com o significado da palavra em grego: eu por ti, porque em ti confio e estou pronto para o que for preciso por ti, porque és meu irmão) e a irmandade.

Hoje nas ruas sentimos que não somos indivíduos que dormimos e despertamos cada um com a sua raiva e os seus medos. Amanhã necessitamos de todos e de todas nesta luta que será longa...

SÓS NÂO PODEMOS!

A manifestação em Atenas começou pela manhã, às 11h. Haviam-se convocado quatro concentrações diferentes. O PAME (“Frente” controlada pelo Partido Comunista KKE) em Omonia, os sindicatos oficiais GSSE e ADEDY em Pedío Areos, várias organizações de esquerda e anarquistas e os sindicatos de base no Museu Nacional e na Praça de Victoria, organizações e sindicatos anarquistas. Muito cedo, já desde às 11h30, ficou claro que não iriam existir quatro manifestações diferentes, simplesmente porque era tanta gente que rapidamente as quatro concentrações se haviam unido numa só: desde Omonia até à Praça Victoria não cabia mais nem um alfinete.

Com valorizações “mais ou menos”, era a maior manifestação que viveu Atenas desde há trinta anos, comparando-a as maiores, as manifestações nos primeiros aniversários da queda da ditadura.

A polícia deixou passar em paz os manifestantes do PAME e os dos sindicatos oficiais, mas começou a cercar (literalmente) a manifestação quando desfilavam os sindicatos de base, as organizações de esquerda e do espaço anarquista. Por volta das 13h30 a tensão subiu ao pico porque toda a gente, até a que desfilava com os sindicatos oficiais, estava furiosa e o objetivo da sua raiva era a polícia. Os gases lacrimogêneos transformaram uma vez mais o centro de Atenas num inferno. Mas as pessoas insistiam: vamos ao Parlamento. A manifestação se dispersou uma e outra vez pela repressão, mas a gente não saía e se concentrava outra vez.

Por fim formou-se uma concentração que começou a caminhar passando outra vez pela Omonia e pela rua Stadíou. Íamos para o Parlamento quando se deu a conhecer a noticia dos três mortos. Não saiu ninguém. Uma manifestação silenciosa, raivosa - e paralisada - até às 17h quando foi invadida por um exército de motocicletas policiais e um exército de agentes antidistúrbios.

Tantos que até os jornalistas dos canais de televisão gritavam que “isto nem nos filmes temos visto, nos atacam a todos por todos os lados, é um exército”. E era um exército. Que se espalhou por todo o centro. Proibiram-se de passar as pessoas nas ruas centrais. Proibiu-se. Assim, sem mais nem menos. Tinhas que caminhar como quatro quadras para encontrar uma rua aberta para chegar a sua casa. Apareceu na televisão o primeiro-ministro, esse Giorgos Papandreou para culpar os “desobedientes e a sua violência”. Sem deixar de recordar-nos que temos que cumprir as ordens, pois, o seu governo, o FMI e a UE têm como único objetivo “salvar” a Grécia. Todos os demais que não queremos esta “salvação” somos responsáveis - segundo o primeiro-ministro - da morte trágica dos três empregados do Banco Marfin. Segundo o primeiro-ministro, segundo o senhor Samaras (Presidente do Partido da Nova Democracia) e segundo o senhor Bgenopoulos - proprietário do Banco Marfin, o homem que nos últimos anos domina a vida econômica do país, proprietário de bancos, iates e da Olympic Airlines que lhe entregou o Estado grego faz alguns meses... - todos e todas somos culpados e “cúmplices” se não consentimos no que, sobretudo é: a “salvação da pátria”.

Desculpem se este escrito segue sem a coerência devida. Há momentos em que ninguém sabe por onde começar e onde terminar. Vivemos um desses momentos na Grécia. E necessitamos de vocês. SÓZINHOS E SÓZINHAS NÃO PODEMOS seguir com a esperança que hoje encheu as ruas da Grécia.

Desde a Grécia...

Atenas, 5 de maio de 2010.

Tradução > Liberdade à Solta

agência de notícias anarquistas-ana

Brisa de outono
Como flechas de sombras Indymedia Portugal

Loukanikos, o cão grego libertário

O nome dele é Loukanikos (Respeito, em grego). Um cão extremamente esperto, charmoso e cheio de graça. Seu porte altivo e elegância chamam a atenção. Seu olhar é doce e fulminante. Ele transparece segurança e confiança. Não se assusta nem foge da luta, da repressão fardada, dos gases lacrimogêneos, do fogo inimigo.

É impressionante como por detrás deste animal salta aos olhos uma imagem terna, de dignidade e rebeldia. Mais uma das tantas poesias anárquicas gregas.

Nos últimos dois anos ele foi visto em quase todas as manifestações em Atenas, tanto nos protestos dos anarquistas como nos dos trabalhadores e estudantes. Presume-se que ele pertença a um dos manifestantes. Mas é um cão livre.

E novamente, lá estava ele, firme, no meio da multidão, do lado do povo grego, participando dos protestos contra as medidas de austeridade do governo grego, FMI e União Européia.

Na edição da última quinta-feira (6), o jornal inglês The Guardian divulgou uma galeria de imagens deste cachorro, que já foi destaque em outras mídias.

Aqui galeria de imagens do The Guardian:

http://www.guardian.co.uk/world/gallery/2010/may/06/greece-protest?pictu...

Aqui um blog com várias imagens do Loukanikos:

http://www.thisblogrules.com/2010/03/dog-that-hasnt-missed-a-single-riot...

Aqui um blog que foi criado recentemente com imagens do Loukanikos:

http://rebeldog.tumblr.com/

Aqui um blog com muitas imagens, vídeos e histórias de cães rebeldes gregos, principalmente do cão Kanelos, dos “Blacks Dogs”:

http://kanelos.blogspot.com/

agência de notícias anarquistas-ana

Na noite trevosa
eis, quando menos se espera,
teu semblante, lua!

Alexei Bueno

sábado, 8 de maio de 2010

[Grécia] O que temos honestamente a dizer sobre os acontecimentos de Quarta?

O texto a seguir resume alguns pensamentos iniciais sobre os trágicos eventos de quarta de alguns de nós aqui da Occupied London [After the Greek Riots] Seguem versões em inglês e grego [e agora português] – por favor, espalhem.]

O que temos honestamente a dizer sobre os acontecimentos de Quarta?

O que os eventos de quarta-feira (5 de maio) significam honestamente para o movimento anarquista/anti-autoritário? Como encaramos a morte dessas três pessoas – independentemente de quem tenha causado? Onde nos posicionamos como humanos e como povo na luta? Nós, que não aceitamos coisas como “incidentes isolados” (da polícia ou brutalidade estatal) e que apontamos o dedo, em uma base diária, para a violência exercida pelo Estado e pelo sistema capitalista. Nós, que temos a coragem de chamar as coisas pelo nome, nós que expomos os que torturam imigrantes em quartéis da polícia ou aqueles que brincam com nossas vidas de dentro de escritórios luxuosos e estúdios de TV. Então, o que temos a dizer agora?

Poderíamos nos esconder atrás da declaração emitida pelo Sindicato dos Bancários (OTOE) ou das acusações dos empregados do setor bancário; ou poderíamos dizer que o fato foi que os mortos foram forçados a ficar em um prédio sem proteção contra incêndios – até mesmo trancados. Poderíamos culpar a escória do Vgenopoulos, o dono do banco; ou o quão esse trágico incidente será usado para lançar uma repressão sem precedentes. Qualquer um (que ousou) passar por Exarchia na quarta a noite teve uma idéia clara disso. Mas não é essa a idéia.

A idéia para nós é enxergar que a divisão da responsabilidade recai em nós, em todos nós. Somos todos responsáveis juntos. Sim, estamos certos em lutar com todas as nossas forças contra as medidas injustas que nos são impostas; estamos certos em dedicar toda a nossa força e criatividade para um mundo melhor. Mas como seres políticos, somos igualmente responsáveis por cada uma de nossas escolhas políticas, pelos meios que temos proporcionado e pelo nosso silêncio cada vez que não admitimos nossas fraquezas e nossos erros. Nós, que não agradamos o povo para ganhar votos, nós que não temos interesse em explorar ninguém, temos a capacidade, sob essas trágicas circunstâncias, de sermos honestos com nós mesmos e com os que estão ao nosso redor.

O que o movimento anarquista grego está experimentando no momento é um torpor total. Porque há condições de pressão para alguns pensamentos de auto-crítica que vai machucar, Diante do horror do fato de que as pessoas que morreram estavam do “nosso lado”, o lado dos trabalhadores – trabalhadores que estão em condições de extrema dificuldade que possivelmente teriam escolhido a possibilidade de marchar ao nosso lado se as coisas fossem diferentes em seu local de trabalho – além disso, são também confrontados com passeatas que colocam a vida das pessoas em perigo. Embora (e isso é inquestionável) não houvesse a intenção de matar, esse é um problema essencial que pode gerar muita discussão – alguma discussão a respeito dos alvos que temos e os meios que escolhemos.

O incidente não aconteceu à noite, em alguma ação de sabotagem. Aconteceu durante a maior passeata da história grega contemporânea. E aqui, uma série de questões dolorosas aparecem: em uma passeata de 150.000 a 200.000, sem precedentes nos últimos anos, há realmente a necessidade de alguma violência “a mais”? Quando você vê milhares gritando “queime, queime o Parlamento” e xingando os policiais, outro incêndio em banco tem algo mais para realmente oferecer ao movimento?

Quando o movimento por si só se torna de massas – como o de dezembro de 2008 – o que uma ação pode oferecer, se essa ação excede o limite do que uma sociedade pode aceitar (ao menos no momento atual), ou se essa ação coloca vidas humanas em risco?

Quando saímos às ruas, somos um com as pessoas ao nosso redor, estamos próximos a elas, ao seu lado, com elas – é por isso, que ao fim do dia, o porque de trabalharmos como jumentos escrevendo textos e posters – e nossas próprias cláusulas são o simples parâmetro no muito que converge. Chegou a hora de falarmos francamente sobre violência e examinarmos criticamente a cultura de violência específica que está se desenvolvendo na Grécia nos últimos anos. Nosso movimento não tem se fortalecido por conta dos meios que às vezes usamos, mas mais por conta da nossa articulação política. Dezembro de 2008 não se tornou histórico somente porque milhares pegaram e atiraram pedras e molotovs, mas principalmente por conta de suas características políticas e sociais – e nesse nível, seu legado é rico. É claro que respondemos à violência exercida sobre nós, e assim somos chamados para ao invés de falar sobre nossas escolhas políticas assim como os meios que temos assumido, reconhecendo os nossos limites – e os deles.

Quando falamos de liberdade, isso significa que a cada momento duvidamos do que ontem tínhamos por garantido. Que nos atrevemos a ir até o fim e, evitando alguns clichês políticos, olhar as coisas diretamente nos olhos, como elas são. Está claro que desde que não consideramos a violência como um fim nela mesma, não podemos deixar que ela lance sombras nas dimensões políticas de nossas ações. Não somos assassinos nem santos. Somos parte de um movimento social, com nossas fraquezas e erros. Hoje, ao invés de nos sentirmos fortes depois de uma passeata tão grandiosa, nos sentimos estarrecidos, para dizer o mínimo. Isso fala por si. Devemos tornar essa experiência trágica em uma busca interna e inspirar outra no fim do dia, agindo todos com base em nossa consciência. E o cultivar de tal consciência coletiva é o nosso suporte.

Occupied London

Tradução > Filipe Ferrari

agência de notícias anarquistas-ana

A abelha voa vai
vem volta pesada
dourada de pólen

Eugénia Tabosa

sexta-feira, 7 de maio de 2010

[Porto] Casa okupada Buraco Negro desalojada!!!

Depois de um estranho incêndio ter destruído uma parte do edifício esta manhã a polícia foi ao local e desalojou quem lá estava! Algumas pessoas foram detidas, fica aqui um relato postado no Indymedia:

Despejo no Porto - Um Relato

7h30

A bófia entra a dizer que toda a gente tem de ir embora. Na prática, a efectuar um desalojo. Com a conversa (?), quando se apercebem que estão todos fora, os okupas trancam a porta e barricam-se.
A policia entra em força e agride uma rapariga, sendo que, na resposta, dois policias são levados ao hospital com ferimentos (não testemunhados). Nove pessoas que se encontravam dentro da casa são detidas, quatro (2 rapazes e duas raparigas, para respeitar a paridade) com acusação de resistência e agressão à autoridade.

Depois de controlada a situação, é dada uma hora para retirar as coisas todas. Os detidos não puderam muito para além de pôr algumas coisas mais importantes resguardadas e o resto foi parar à lixeira, entre roupas, livros, colchões e muito mais.

9h30

Logo à chegada, aproveitei a entrada de algum responsável por qualquer coisa para ir atrás dele e poder entrar na okupa. O objectivo era estar com alguém de dentro. Não deu. O contacto com alguém que lá estivesse aquando do desalojo foi impossível, a não ser umas frases soltas quando levavam algum deles para a carrinha.

Pouco depois veio o comandante ver quem eram estes que estavam a apoiar o pessoal. E, é claro, começou a ser bombardeado por perguntas, estilo “tem mandato de despejo?”, a que respondia que tinha um fax do proprietário a afirmar que nunca autorizou ninguém a estar lá, o que não é verdade (mas não há documento escrito com a autorização, por isso não se pode provar). O fax não foi apresentado, nem qualquer outro documento a demonstrar a legalidade da acção policial. Argumentou que quem lá estava eram os bombeiros, para verificar as condições depois do incêndio, e que a policia só lá foi para apoio. Depois de todos os ocorridos, é difícil engolir esta. Bombeiros, nem vê-los, só vi o chefe deles a conversar com um “representante do proprietário”, mais nada. Este último também não interveio, ficou-se sem saber quem era. Documentação, ordens de ribunal, fosse o que fosse, nada.

Quando chegou a vez do comandante prestar declarações à comunicação social (JN), virou-se para a jornalista e disse, baixinho “vamos mais para ali”. Como me apercebi, cheguei ao ali mais depressa que eles, na esperança de poder intervir a qualquer momento. Efeito curioso, o ali tornou-se mais acolá, eu aproximava-me e eles afastavam-se. Finalmente, lá conseguimos entre todos rodear entrevistadora e entrevistado, e fomos rebatendo as afirmações que ele ia fazendo (local dedicado à toxicodependência, tráfico, condições de salubridade, ocupação ilegal…) Como o pessoal não se calava, começou a ficar chateado e, ás tantas, vira-se para a repórter e convida-a a entrar, junto com o fotógrafo. Essas imagens vão aparecer de certeza, por isso convém fazer notar que foram tiradas já depois de a casa ter sido toda revirada, terem sido despejadas as pessoas, tudo junto e amontoado e a ser levado para os carros, polícias a dar pontapés nas coisas, enfim, uma barafunda mais exógena que original.

Se não tivessem aparecido alguns companheiros, as coisas deles teriam ido todas parar à lixeira, e mesmo assim não se conseguiu evitar que se enchessem muitos sacos com destino ao pardieiro.

A conversar com o comandante, falou-se do 25 de Abril, e um deles saiu-se com esta “O 25 de Abril foi para trazer a liberdade, não a libertinagem!”

Um dos detidos saiu com o sobrolho aberto, e foi o único ferimento que pude registar. A ver da próxima vez que estiver com ele se a coisa ficou por aí. Como é um dos acusados, e ainda não se sabe o que vai acontecer quando forem presentes a juiz, o que em princípio acontece esta tarde, é
possível que passe o fim-se-semana detido e, assim, as minhas fichas apostam que não.

No fim, ameaçaram que, se não tirássemos os cães (que tinham sido fechados num carro e numa carrinha) no prazo de uma hora, estes seriam enviados para o canil, a expensas dos detidos. Lá se conseguiu ir à esquadra buscar as chaves e voltar dentro do limite.

Encheu-se 3 carros e uma carrinha com o que se pode, com muita canzoada pelo meio, que já de manhã tinha tido uma alvorada perfumada a gás-pimenta, e lá fomos nós., fodidos como é costume, e lá ficaram eles, satisfeitos por mais um dia de trabalho bem passado.

Mais informação aqui e aqui.

[Grécia] Estado de terror em Exarchia

Numa orgia de punição coletiva, a polícia grega desencadeou um ataque brutal em Exarchia, depois do fim da manifestação de ontem (5), destruindo lojas e centros sociais, e evacuando uma Okupa com pistolas em mãos e destruindo as instalações.

A brutalidade policial vista nas ruas de Exarchia na noite passada após o final da marcha de protesto da greve geral em Atenas não tiveram precedentes e projeta sérias dúvidas sobre a natureza desse regime atual na Grécia, em que o véu democrático é removido para mostrar-se como ele realmente é: a continuação da Junta dos Coronéis.

No final da manifestação, centenas de policiais antidistúrbios e motorizados invadiram Exarchia, bairro do centro de Atenas, região associada com a política radical desde o início do século XX. A polícia começou a atacar os transeuntes e pessoas que estavam tomando café na área, enquanto destruíam a tradicional cafeteria da praça Exarchia, apesar de estar cheia de clientes. O vídeo da violência gratuita da polícia pode ser visto aqui:



Os habitantes do bairro não hesitaram em interromper os bandidos da polícia gritando "Junta-Junta" e "SS SS". Em resposta, a polícia retaliou batendo em quem estava no seu caminho e até mesmo invadindo os blocos de apartamentos. De acordo com Ioanna Manoushaka (ver fotos em anexo), ela estava em pé parada na frente da porta do prédio gritando para os policiais que fizeram a vida insuportável na vizinhança quando um policial a atacou, quebrando o braço e os seus dentes. Então ela correu escadas acima e se trancou em seu apartamento, porém as forças da ordem a seguiu e tentou destruir a porta do apartamento durante cinco minutos, enquanto ela e seu marido, um compositor de renome, se barricavam.

Gritando "esta noite nós vamos te fuder", a polícia então começou a invadir e destruir o Centro Social (Haunt of Migrants) do Diktio, a "Rede de Direitos Sociais e Civis”, um grupo de esquerda com muitas décadas de luta contra o terrorismo de Estado. De acordo com o anúncio do Diktio, "A governança do FMI e da junta de mercado está aproveitando o ato criminoso do banco para impor um regime de terror no país. A orgia do estado policial por meio da guerra química e choques massivos atingiu o seu clímax nesta noite em Exarchia”.

Ao mesmo tempo, violentas forças policiais cercaram a Okupa anarquista da rua Zaim, acima da Escola Politécnica, e começou a invadir e evacuar o local com pistolas em mãos. Os informes de que a polícia realmente disparou para o ar durante a evacuação não foi confirmado. Todo mundo que estava dentro da Okupa foi preso.

A estratégia de repressão coletiva à resistência popular contra as medidas de ontem (5), é um método característico do governo nazi-colaborador da década de 1940, justificando o nome comum que até hoje chamam os policiais: "Alemães-Tsoliades" (o esquadrão da brigada de "Tsoliades" sob as ordens dos colaboracionistas).

Mais fotos:

http://athens.indymedia.org/front.php3?lang=el&article_id=1164674

http://athens.indymedia.org/front.php3?lang=el&article_id=1164342

agência de notícias anarquistas-ana

Outono –
as folhas caem
de sono

Cláudio Fontalan

[Grécia] What do we honestly have to say about Wednesday’s events?

What do the events of Wednesday (5/5) honestly mean for the anarchist/anti-authoritarian movement? How do we stand in the face of the deaths of these three people – regardless of who caused them? Where do we stand as humans and as people in struggle? Us, who do not accept that there are such things as “isolated incidents” (of police or state brutality) and who point the finger, on a daily basis, at the violence exercised by the state and the capitalist system. Us, who have the courage to call things by their name; us who expose those who torture migrants in police stations or those who play around with our lives from inside glamorous offices and TV studios. So, what do we have to say now?

We could hide behind the statement issued by the Union of Bank Workers (OTOE) or the accusations by employees of the bank branch; or we could keep it at the fact that the deceased had been forced to stay in a building with no fire protection – and locked up, even. We could keep it at what a scum-bag is Vgenopoulos, the owner of the bank; or at how this tragic incident will be used to leash out some unprecedented repression. Whoever (dared to) pass through Exarcheia on Wednesday night already has a clear picture of this. But this is not where the issue lies.

The issue is for us to see what share of the responsibilities falls on us, on all of us. We are all jointly responsible. Yes, we are right to fight with all our powers against the unjust measures imposed upon us; we are right to dedicate all our strength and our creativity toward a better world. But as political beings, we are equally responsible for every single one of our political choices, for the means we have impropriated and for our silence every time that we did not admit to our weaknesses and our mistakes. Us, who do not suck up to the people in order to gain in votes, us who have no interest in exploiting anyone, have the capacity, under these tragic circumstances, to be honest with ourselves and with those around us.

What the greek anarchist movement is experiencing at the moment is some total numbness. Because there are pressurising conditions for some tough self-criticism that is going to hurt. Beyond the horror of the fact that people have died who were on “our side”, the side of the workers – workers under extremely difficult conditions who would have quite possibly chosen to march by our side if things were different in their workplace – beyond this, were are hereby also confronted with demonstrator/s who put the lives of people in danger. Even if (and this goes without question) there was no intention to kill, this is a matter of essence that can hold much discussion – some discussion regarding the aims that we set and the means that we chose.

The incident did not happen at night, at some sabotage action. It happened during the largest demonstration in contemporary greek history. And here is where a series of painful questions emerge: Overall, in a demonstration of 150-200,000, unprecedented in the last few years, is there really a need for some “upgraded” violence? When you see thousands shouting “burn, burn Parliament” and swear at the cops, does another burnt bank really have anything more to offer to the movement?

When the movement itself turns massive – say like in December 2008 – what can an action offer, if this action exceeds the limits of what a society can take (at least at a present moment), or if this action puts human lives at danger?

When we take to the streets we are one with the people around us; we are next to them, by their side, with them – this is, at the end of the day, why we work our arses off writing texts and posters – and our own clauses are a single parameter in the many that converge. The time has come for us to talk frankly about violence and to critically examine a specific culture of violence that has been developing in Greece in the past few years. Our movement has not been strengthened because of the dynamic means it sometimes uses but rather, because of its political articulation. December 2008 did not turn historical only because thousands picked up and threw stones and molotovs, but mainly because of its political and social characteristics – and its rich legacies at this level. Of course we respond to the violence exercised upon us, and yet we are called in turn to talk about our political choices as well as the means we have impropriated, recognising our -and their – limits.

When we speak of freedom, it means that at every single moment we doubt what yesterday we took for granted. That we dare to go all the way and, avoiding some cliché political wordings, to look at things straight into the eye, as they are. It is clear that since we do not consider violence to be an end to itself, we should not allow it to cast shadows to the political dimension of our actions. We are neither murderers nor saints. We are part of a social movement, with our weaknesses and our mistakes. Today, instead of feeling stronger after such an enormous demonstration we feel numb, to say the least. This in itself speaks volumes. We must turn this tragic experience into soul-searching and inspire one another since at the end of the day, we all act based on our consciousness. And the cultivation of such a collective consciousness is what is at stake.

Retirado de: Occupied London

[Grécia] “Para todas as pessoas que usam a morte de três seres humanos para dar vazão aos seus discursos de ódio contra anarquistas”

Para todas as pessoas, especialmente aquelas que comentam aqui, que usam a morte de três seres humanos para dar vazão aos seus discursos de ódio contra anarquistas, perguntem a si mesmas o seguinte: você já reagiu dessa maneira quando algum imigrante é espancado ou/e até mesmo assassinado pela polícia de Atenas? Você já reagiu assim quando outra dezena ou centena de civis morrem no Iraque, ou Afeganistão ou em qualquer outro lugar desse mundo? Você posta comentários cheios de ódio nas páginas da mídia oficial, pelas dezenas de centenas de pessoas que são mortas por um sistema de poder global econômico irracional em uma contagem diária?

Não? Então talvez você devesse calar a boca e começar a pensar... A não ser que realmente aprove o estado que o mundo se encontra, pois isso lhe proporciona uma TV colorida, um carro, casa própria e bananas baratas. E tudo isso somente pelo preço de ter que olhar para todos os seres humanos como competidores e ameaças em potencial!

Para todos os anarquistas e camaradas de esquerda radicais:

Enquanto não sabemos quem atirou o molotov, devemos definitivamente lutar contra a campanha midiática e política que aponta o dedo ao povo que luta contra sua miséria, devemos também ser bravos o suficiente para admitir que possivelmente foi "um de nós".

Todos os que estão envolvidos em lutas militantes de massa sabem que sempre há a possibilidade de uma tragédia como essa acontecer. Desde que não somos um partido nem qualquer tipo de instituição - e uma revolta popular nunca vai ser - não podemos nunca controlar totalmente a situação. Qualquer um pode causar esse tipo de dano com uma demonstração violenta: agentes de polícia provocadores, fascistas, hooligans, cidadão raivosos ou anarquistas de cabeça quente.

Mesmo que isso tenha sido feito por agentes do Estado ou das classes de cima, nós como anarquistas propiciamos o meio necessário! Não vamos negar isso. Exatamente porque aprendemos enquanto lutamos, exatamente por não querermos ser como um partido, como o Estado e as classes dominantes, como os fascistas, temos que ser honestos, humanos, autocríticos e ainda assim determinados.

Então, é tempo de pensar no que podemos fazer para minimizar o risco e prevenir os danos e até, como agora tragicamente aconteceu, a morte de pessoas não envolvidas.

Enquanto para mim está tudo bem em usar molotovs contra a polícia ou em ações planejadas, deve haver um consenso de não usá-los contra prédios nos quais:

a) Possam haver pessoas;

b) O fogo possa se espalhar para outros edifícios que não tem a ver, como casas residenciais. E todos sabemos que lojas com apartamentos residenciais em cima são atacadas em ações na Grécia hoje e sempre;

Atacar um banco, a loja de uma grande companhia, etc.; é sempre um ato simbólico e deve ser encarado como tal.

Usem pedras, tintas, entrem e destruam tudo se houver a possibilidade. Se usarmos fogo, não podemos controlar o desenrolar, e a mídia e os políticos ficarão felizes em poderem nos retratar como hooligans psicopatas e o simbolismo é o mesmo de qualquer maneira.

Juntar a isso o poder do fogo não vale arriscar a integridade de seres humanos.

Dito isso, toda a minha solidariedade vai aos amigos e camaradas anarquistas e de esquerda radicais na Grécia e todas as pessoas em qualquer lugar que lutam por um mundo livre do capitalismo e cheio de cooperação mútua, no qual a liberdade individual e coletiva são uma só, repletas de vida para todos, é o objetivo da sociedade!

L.

Tradução > Filipe Ferrari

agência de notícias anarquistas-ana

tarde cinza

borboleta amarela

toda luz do dia

quinta-feira, 6 de maio de 2010

[Grécia] Atenas, zona de guerra


[Três pessoas sufocaram até a morte, durante o incêndio no banco Marfin Eganatia Bank, durante confrontos entre protestantes e a polícia em Atenas.]

A marcha de protesto em Atenas, que marca o auge da greve geral convocada para 5 de maio, foi atendida por aproximadamente 200 mil pessoas (20 mil desses fizeram uma marcha sozinhos a mando do PAME), mas devido à falta de cobertura da mídia na greve geral, não existem estimativas concretas. Depois do PAME (Partido Comunista da Grécia), os manifestantes deixaram a Praça Syntagma, as primeiras linhas principais da marcha começaram a chegar perante o Parlamento com os primeiros confrontos em erupção no final da Rua Stadiou. A marcha, em seguida, atravessou o Monumento do Soldado Desconhecido, obrigando a Guarda Presidencial a recuar, e tentaram invadir o Parlamento, mas foram parados por forças policiais que hoje demonstraram uma atitude firme a fim de resolver particularmente os problemas contra os manifestantes. Logo, batalhas eclodiram em volta do Parlamento, com manifestantes jogando coquetéis molotov e pedras. Uma van blindada da polícia de intervenção foi incendiada, e a polícia respondeu com o uso prolongado de gás lacrimogêneo que logo fez a atmosfera de Atenas insuportavelmente irritante. Mais blocos de manifestantes chegaram à Praça Syntagma, e as batalhas se espalharam pelo centro da cidade e duraram mais de cinco horas.

Durante o conflito, muitos prédios públicos foram incendiados, incluindo a sede do condado de Attika. A mídia noticia que o andar do Ministério das Finanças estava pegando fogo e documentos vitais foram destruídos pelo fogo. Entretanto, o estranho é que o andar do Ministério das Finanças fica no quarto andar e as bombas de gasolina não alcançam até lá. O prédio está em perigo de colapso.

Segundo a imprensa, a maioria das estações de rádio e TV furaram a greve e voltaram a trabalhar às 14 horas (horário grego), devido aos eventos catastróficos. Eles alegaram que furaram a greve porque a morte das três pessoas (entre elas uma mulher grávida) ocorreu por causa dos manifestantes. No entanto, essa é uma afirmação sem fundamento. Um caso parecido ocorreu há 30 anos atrás, quando um incêndio no Prédio Kappa-Marousi na Rua Panepistimiou causou a morte de várias pessoas. Na época jogaram a culpa nos anarquistas, mas mais tarde foi provado que o fogo foi causado pelo gás disparado pela polícia.

Um vídeo do corpo de bombeiros tentando evacuar o prédio pode ser visto neste link:

http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/europe/8661385.stm

Depois da trágica morte dos três trabalhadores, novos conflitos começaram na capital grega, com uma grande multidão na frente do banco queimado Marfin, quando o bancário-chefe do banco tentou visitar o local. Conflitos ocorreram entre a multidão e a polícia quando a linha de frente dos manifestantes tentou atacar o magnata bancário, acusando ele de forçar os trabalhadores que morreram a ficar no prédio e a não entrar em greve sendo que um pedido de evacuação do prédio já tinha sido dado desde às 12 horas (horário grego).

No Parlamento, o Partido Comunista da Grécia acusou o governo pelas mortes, dizendo que isso foi resultado de grupos fascistas provocadores. As alegações do Partido Comunista são baseadas no fato de 50 fascistas tentarem entrar no prédio do PAME com bandeiras fascistas da Grécia. Os fascistas foram expulsos, perseguidos e se esconderam atrás das linhas policiais. Acusando a extrema-direita por estar atrás das mortes, a Coalizão da Esquerda Radical declarou no Parlamento que o governo não pode fingir estar em luto pelas perdas humanas, porque atacar a vida humana por todos os meios possíveis sempre foi o que o governo quis.

Enquanto isso, os confrontos se estenderam em Tessalônica onde aproximadamente 50 mil pessoas marcharam destruindo dezenas de bancos e lojas na segunda maior cidade da Grécia. Confrontos com a policia durou por muitas horas. De acordo com o noticiário, anarquistas ocuparam o Prédio de Centro de Trabalho da cidade.

Em Patras, aproximadamente 20 mil manifestantes se juntaram aos motoristas de tratores e motoristas de caminhão de lixo, e barricadas em chamas foram erguidas ao longo das ruas centrais da cidade e confrontos ocorreram entre a polícia e os protestantes.

Em Ioanninna, os manifestantes atacaram bancos e lojas, fazendo a polícia usar armas de contenção. Em Heraklion, 10 mil pessoas participaram da marcha contra as medidas do governo. Em Corfu, manifestantes fizeram parte da marcha anti-medidas do governo e ocuparam a Sede do Condado. Manifestantes ocuparam o Prédio de Administração de Naxos e a Câmara Municipal de Naoussa.

Como resultado dos motins de Atenas, a polícia isolou todo o centro da cidade, construindo pontos de verificação de entrada e saída, enquanto todas as autorizações de trabalho da polícia foram recolhidos. Batalhas ainda continuam a acontecer no interior da cidade, enquanto os noticiários afirmam que a polícia está mobilizando as suas forças para invadir uma ocupação anarquista em Exarchia.

• Vídeo que mostra as forças de segurança destruindo vidraças de pequenas lojas e ameaçando os populares:





Tradução > Luis, A Vingança!

agência de notícias anarquistas-ana

O céu, que é perfeito,
andou jogando em seus olhos
o dom do infinito.

Humberto del Maestro

Retirado de: Rede Libertária

[Grécia] Três mortos na greve geral

Pelo que se sabe, de momento, três pessoas morreram devido ao incêndio que deflagrou dentro de uma agência bancária - Marfin Bank - onde trabalhavam. Esta agência situa-se na Avenida Stadiou e foi atacada com um coctail molotov quando a manifestação grevista passou diante dela.

Perante a sofreguidão dos media e do poder político, que pretendem cavalgar este acontecimento para restabelecer a normalidade, recuperar a legitimidade do Estado e da Economia e o seu monopólio da violência, surge uma carta escrita por um colega de trabalho das pessoas falecidas que introduz dados relevantes:

- Todos os trabalhadores foram ameaçados de despedimento imediato pelo dono do banco, um tal de Vgenopoulos, se não comparecessem hoje na agência.

- A agência permaneceu todo o dia trancada, com os empregados lá dentro, e o acesso à Internet foi desactivado.





CARTA DE UM FUNCIONÁRIO DO BANCO MARFIN ENGANATIA BANK

[Das quais três trabalhadores morreram hoje (5), dois homens e uma mulher, em um incêndio numa agência em Atenas durante as manifestações contra as duras medidas de austeridade aprovadas pelo governo grego.]

Sinto-me na obrigação com os meus companheiros que morreram de maneira injusta hoje e alçar a minha voz e dizer algumas verdades. Estou enviando esta mensagem a todos os meios de comunicação. Alguém que tenha alguma consciência deve publicá-la. O resto pode continuar fazendo o jogo do governo.

O Corpo de Bombeiros nunca tinha emitido qualquer licença sobre o edifício do banco Marfin Eganatia Bank. O acordo foi feito por debaixo do pano, como acontece com praticamente todos os negócios e as empresas na Grécia.

O edifício aonde estava a agência não tem nenhum mecanismo de segurança em caso de incêndio, nem planejado ou instalado. Ou seja, nenhum sistema de dispersão ou saídas de emergência ou mangueiras. Tão só alguns extintores portáteis que, supostamente, não são suficientes para lidar com um incêndio real num edifício construído com base em normas de seguranças muito antigas.

Nenhuma agência deste banco conta sequer com um funcionário treinado na extinção de um incêndio, mesmo no uso dos poucos extintores que existem. A direção do banco também usa os altos custos de formação como uma desculpa e não toma nem as medidas mais básicas de proteção aos funcionários.

Nunca houve qualquer exercício de simulação de incêndio em todo o edifício, nem exercícios de treinamento por parte dos bombeiros, para dar instruções a seguir em caso de situações como esta. As únicas sessões de treinamento que ocorreram no banco Marfin Eganatia Bank têm a ver com situações de atos terroristas e fornecer somente o meio de escapar pelo "peixe grande" do banco.

O edifício em questão não tem nenhum caso recente de incêndio idêntico, embora a sua construção seja muito sensível em tais circunstâncias, e está cheia de materiais altamente inflamáveis do chão ao teto, como papel, plásticos, fios e móveis. O edifício é objetivamente impróprio para o uso como um banco, dada as características da sua construção.

Nenhum membro da segurança do banco tem qualquer conhecimento de primeiros socorros e combate a incêndios, apesar de serem responsáveis pela segurança do edifício. Os funcionários do banco têm de se converter em bombeiros ou pessoal de segurança, de acordo com o apetite do Sr. Vgenopoulos [proprietário do banco Marfin Eganatia Bank].

A gerência do banco proibiu taxativamente que seus funcionários abandonassem o local de trabalho hoje -apesar de eles terem pedido desde as primeiras horas da manhã-, obrigou os funcionários a fechar as portas e reiterou que o prédio teria que ser fechado durante todo o dia, tudo por telefone. Eles também bloquearam o acesso à internet para evitar que os trabalhadores se comunicassem com o exterior.

Durante muitos dias eles aterrorizaram os funcionários do banco em relação com as manifestações destes últimos dias, com a seguinte "oferta": ou trabalha, ou te demitimos.

Os dois polícias à paisana que são enviados para a agência em questão para prevenir os roubos não compareceram nesta manhã, embora a gerência do banco tivesse prometido verbalmente a seus empregados que estariam lá.

Por último, Senhores Deputados, façam uma autocrítica e parem de fingir que estão em estado de choque. Vocês são responsáveis pelo o que aconteceu hoje, e em qualquer estado justo (como o que vocês gostam de usar de vez em quando como exemplos em seus programas de TV) seriam presos por tudo o que foi mencionado acima. Os meus companheiros perderam suas vidas hoje pela esperteza: a esperteza do banco Marfin Eganatia Bank e do Sr. Vgenopoulos em particular, que afirmou explicitamente que quem não fosse trabalhar hoje [em 5 de maio, o dia da greve geral] não deveria se preocupar em vir amanhã [uma vez que seriam demitidos].

Um funcionário do Banco Marfin

Notas:

1. No parlamento grego o Partido Comunista da Grécia (KKE), acusou o governo pelas mortes, dizendo que foi um resultado da ação de agentes provocadores dos grupos fascistas. Os argumentos do Partido Comunista se baseiam no fato de que 50 fascistas tentaram entrar na manifestação do PAME carregando bandeiras da Grécia na parte da manhã. Os fascistas foram perseguidos e se refugiaram entre as forças de segurança antidistúrbios.

2. Eles acusam a extrema-direita de estar por trás das mortes, a Coalizão de Esquerda Radical (Syrisa) declarou no parlamento que o governo não pode atormentar-se com a perda de vidas, porque tem estado atacando as vidas por todos os meios possíveis.

3. Não tomamos as ruas ou arriscamos nossa liberdade e vida enfrentando a polícia para matar pessoas. Os anarquistas não são assassinos!

agência de notícias anarquistas-ana

peixes voadores
ao golpe do ouro solar
estala em farpas o vidro do mar

José Juan Tablada

Retirado de: Indymedia Portugal

[Grécia] Polícia fere gravemente um camarada anarquista

Duas pessoas foram presas ontem (4 de maio) em Atenas. Uma dessas é o anarquista Simeon Seisidis, acusado de ser o “cabeça” do “Ladrões de Preto” (o caso no qual também está envolvido o preso anarquista Giannis Dimitrakis).

Simeon era procurado desde 2006 e foi preso por engano na noite passada, enquanto a polícia procurava os ladrões que tinham acabado de roubar um supermercado em Atenas. Além disso, o companheiro preso também é acusado de fazer parte do grupo "Luta Revolucionária".

Simeon está no hospital com um ferimento grave na perna. Ontem, ele estava com outra pessoa, perto do local do roubo. Os dois perceberam a presença da patrulha policial e tentaram escapar. No tiroteio, Simeon foi ferido na perna. Segundo os médicos, um projétil atravessou seu quadril, lesionando suas artérias. Ele perdeu muito sangue e está em estado crítico.

A polícia diz que pensaram se tratar de Giorgos Nikolopoulos (que tem um mandado de prisão por causa do caso “Conspiração das Células de Fogo), mas depois do exame das digitais descobriram que se tratava de Simeon.

A outra pessoa presa um pouco depois é Aris Seirinidis, também um anarquista conhecido, investigado anteriormente pelo caso dos “Ladrões de Preto".

A polícia diz que os dois não estão envolvidos no roubo do supermercado. Alega-se que os dois estavam transportando armas, uma granada e munições. Estão analisando as armas, mas, aparentemente, não têm sido usadas em ações “terroristas”.

Tradução > Luis, A Vingança!

agência de notícias anarquistas-ana

escreve
a tinta se esvai
o mar se expande

Seferis

quarta-feira, 28 de abril de 2010

[Portugal] “Sementes da resistência no abril de todos os dias”


[Em Lisboa, anarquistas protestam na data do golpe de estado do 25 de abril de 1974, que ficou conhecido para sempre como a "Revolução dos Cravos"; na véspera a polícia coagiu um festival contracultural de grupos punks e anarcopunks; ao mesmo tempo a imprensa portuguesa divulgava um documento com registros das atividades políticas de alguns anarquistas daquele país.]

"Não esquecemos não perdoamos". Foi sob este lema que individualidades e grupos diversificados de anarquistas e anti-autoritários portugueses prepararam a resposta "contra o terrorismo de Estado" num "25 de abril com nada a celebrar". E por isso ocuparam as ruas da baixa lisboeta no final da tarde do dia 25 de abril, "sem medo e sem lei", porque "a democracia é repressão e autoridade", afirmando, à plenos pulmões, que "não queremos um Estado militarista que, recorrendo ao poder nos abafa e força-nos a viver uma vida que não queremos, que nos impede de fazer o que queremos”.

Nos comunicados distribuídos à população intitulado “Chamada Anarquista - apelo à solidariedade com os que sofreram a repressão do Estado e à resistência”, podia se ler “não esquecemos não perdoamos" e “em solidariedade com todos os que lutam pela destruição do Estado, fonte primária de todo o terrorismo. Continuamos na rua... Sem medo nem lei!".

Já no fundo da Rua do Carmo/Rossio - local onde há três anos uma manifestação anti-autoritária e anti-capitalista foi alvo de intensa repressão, com a prisão de 11 manifestantes, a correr julgamento atualmente no Tribunal - partiram, ao som dos batuques, numa passeata pela baixa lisboeta que terminou, simbolicamente, na antiga Praça do Império, local atualmente freqüentado por muitos imigrantes e que constitui essa amálgama de povos que sonhamos ser, cidadãos do mundo já hoje.

Repressão ao festival "Imune Fest”

Mas, se desta vez a repressão do Estado não atingiu o grau de violência e brutalidade policial de 2007, não deixou de se verificar de forma insidiosa a sua presença nefasta, exercendo coação sobre uma associação popular com o intuito de impedir a realização do festival "Imune Fest", que foi cancelado em Lisboa por pressão da polícia exatamente na véspera do 25 de abril.

O festival "Imune Fest" surgiu porque, segundo um comunicado distribuído, "somos imunes à opressão, imunes à apatia, imunes ao vosso controle da música", contando com a participação das bandas: Kostranostra (Anarcopunk de Valência), Gatos Pingados (Punk Hardcore de Almada), The Skrotes (Skate Punk de Lisboa), Massey Ferguson (Crust de Beja), Steven Seagal (Hardcore Oldschool de Lisboa), Ventas de Exterco (Punk Hardcore de Beja), Pussy Hole Treatment (Punk Trasher de Lisboa), Desobediência Geral (Anarcopunk de Lisboa).

Na sexta-feira, dia 23 - um dia antes do festival - os organizadores foram informados pela Associação Boa União, local acordado para o concerto, que este não se realizaria ali, fazendo exigências despropositadas como alternativa, porque a polícia tinha ido lá e lhes tinha dito que não era aconselhável realizar naquele lugar o concerto porque "é coisa de anarquistas" e que eles "são piores que os nazis e integrantes dos “no name boys” e poderiam causar distúrbios". No final o concerto acabou por realizar-se na Ocupa Kylacancra, às 17h, em Palmela, Setúbal, com as bandas já anunciadas, disponibilizando-se, solidariamente, transporte para o novo local, menos acessível.

Texto distribuído durante o concerto na Ocupa Kylakancra:

Todos temos os nossos objetivos. Seja viver uma vida pacífica com um dia a dia estável, seja contestar os valores da nossa sociedade com vista a empurrar o nosso mundo numa direção mais positiva e justa.

Para todos vós as nossas existências estão ameaçadas. A vida como a conhecemos só tende a piorar. O Tratado de Lisboa permite o uso da pena de morte na Europa contra atos daqueles que se preocupam com um futuro melhor, uma polícia global foi criada a revelia do público com o objetivo de, sem responder às leis que votamos, estrangular as vozes de quem não se vê satisfeito com o estado da nossa sociedade.

Agora no dia 24 de abril de 2010, 36 anos depois do 25 de abril, a polícia impede a concretização de um concerto organizado pelos jovens que constituem o futuro do nosso planeta. De uma forma intransigente cancelam uma organização independente, sem fins lucrativos com o objetivo de promover a cultura e a interação de todos nós.

36 anos depois de se celebrar a liberdade de expressão e o fim da ditadura calam as nossas vozes com argumentos político-ideológicos. Aquilo que é o mais básico da dita liberdade de expressão é o argumento utilizado pelas forças do Estado para nos impedirem de vivermos a nossa vida.

Não queremos um Estado militarista que, recorrendo ao poder, nos abafa e força-nos a viver uma vida que não queremos, que nos impede de fazer o que queremos.

Que o 25 de abril de 2010 não seja mais uma celebração dos anos passados mas sim uma ponte para um mundo mais justo, feitos para as pessoas e não para os interesses egoístas dum governo corrupto e distante do povo.

Porque por mais que tentem somos ainda imunes ao dinheiro que gere este planeta, somos imunes ao vosso egocentrismo, somos imunes ao vosso ódio.

Polícia registra as atividades políticas dos anarquistas portugueses

O relatório da polícia sobre a manifestação em 25 de abril em 2007 confirma que as forças da ordem têm registro das atividades políticas dos anarquistas portugueses, mesmo daqueles que não são arrolados no processo. A seguir matéria divulgada pelo Jornal de Notícias, intitulada “PSP relata "cadastro" político de não argüidos em processo”.

Relatório policial identifica 30 pessoas estranhas a inquérito sobre manifestação do 25 de abril de 2007.

Estes indivíduos não são argüidos nem foram identificados no inquérito criminal da manifestação do 25 de abril de 2007, mas aparecem identificados no respectivo processo, por alegadas ligações, na maioria dos casos, a movimentos anarquistas, de extrema-esquerda e ecologistas, que as autoridades associam àquela manifestação.

A maior parte das informações que a PSP (Polícia de Segurança Pública) juntou sobre aqueles cidadãos não tem relevância criminal; outras foram retiradas de processos-crime, em grande medida, sobre (outras) manifestações não autorizadas e ações "Okupa" - ocupação de casas devolutas.

"Parece ter havido uma falha na preparação do relatório, porque deveria ter sido omitida a identidade das pessoas não constituídas argüidas no processo", comenta Paulo Henriques, da Faculdade de Direito de Coimbra.

O relatório da PSP, de 29 de novembro de 2007 e assinado pelo então comandante metropolitano de Lisboa, Guedes da Silva, foi requerido por uma procuradora do DIAP de Lisboa, em 2007, após os confrontos, na zona do Chiado, entre o Corpo de Intervenção da PSP e participantes na "Manifestação antiautoritária contra o fascismo - contra o capitalismo".

A magistrada pediu informações sobre a "integração" dos 11 argüidos (um já falecido) do inquérito" em movimentos ou grupos tais como os citados no auto de notícia" - anarquistas e de extrema-esquerda - e registro de ações violentas e ilegais destes grupos. E juntou ao processo, que já é público, o relatório recebido da PSP.

PSP aponta cartão da JCP

O documento começa por relatar fatos da vida de cinco dos 11 argüidos, sem que nenhum dos imputados - tentativas de furto em supermercados, ruído na via pública... - os ligue àquele tipo de grupos. O único fato "político" ali descrito decorre da integração de uma argüida num grupo que, na tarde de 25 de abril de 2007, atirou ovos e tomates contra um cartaz xenófobo do PNR, no Marquês de Pombal.

Não se ficando pelos argüidos, a PSP começou por identificar seis dos atiradores de ovos. Ao primeiro da lista, imputou o incitamento à realização de seis greves e manifestações, em duas escolas secundárias. Mas sublinhou o ativismo político do jovem de forma mais curiosa: "Em 4 de novembro de 2006, participou o extravio de documentos, entre os quais se encontrava o cartão de militante da Juventude Comunista Portuguesa", apontou a PSP.

Lei proíbe ficheiros políticos

O relatório vai mais longe e identifica 24 pessoas que não têm sequer relação estabelecida com nenhum argüido. Contudo, participaram em ações de caráter político-ideológico: protestos contra cúpulas do G8 e a guerra no Iraque, ações contra os transgênicos, ocupação de imóveis devolutos...

Tome-se o exemplo do cidadão belga J.D.. A PSP não lhe imputa qualquer fato ilegal e muito menos com relevância criminal, mas identifica-o, por ele estar ligado ao grupo ambientalista GAIA, que terá membros comuns ao Verde Eufémia, que, por sua vez, terá destruído milho transgênico em Silves, em 2007. A PSP relatou que J.D. tinha 25 anos, recebeu um fundo da União Européia para colaborar com o GAIA, é licenciado em Ecologia e em Ciências Sociais e Políticas, esteve três dias em Rostock (Alemanha) a manifestar-se contra a cúpula do G8, participa em workshops da Rede G8 em Portugal.

Este é um dos casos que levanta questões sobre como a PSP recolhe e trata dados dos cidadãos, sendo certo que a lei proíbe "o tratamento de dados pessoais referentes a convicções filosóficas ou políticas, filiação partidária ou sindical". O docente Paulo Henriques faz uma declaração de fé: "Quero crer que as atividades de recolha e tratamento de dados que as polícias desenvolvem têm lugar no estrito cumprimento da lei".

O JN questionou a PSP, mas esta não quis fazer "qualquer tipo de comentário". Dos quatro advogados dos argüidos contatados, pronunciou-se Alexandra Ventura, que contestou que a PSP "registre e interligue informações de pessoas que nada têm a ver com o processo".

"A PIDE [polícia política do tempo do fascismo, antes do 25 de abril de 1974] registrava informações das pessoas, mas não as divulgava…", comparou a jurista.

agência de notícias anarquistas-ana

Varrendo folhas secas
lembrei-me do mar distante:
chuá de ondas chegando.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A policia tem registo das actividades políticas dos anarquistas portugueses

O relatório da policia sobre a manifestação no 25 de Abril em 2007 confirma que a policia tem registo das actividades políticas dos anarquistas portugueses mesmo daqueles que não são acusados.

Fica a notícia do JN:

O processo em que dez arguidos estão a ser julgados por ofensas a polícias numa manifestação realizada em Lisboa, faz hoje três anos, contém um relatório da PSP que identifica 30 cidadãos estranhos ao processo, com o seu nome e convicções ideológicas.

Estes indivíduos não são arguidos nem foram identificados no inquérito criminal da manifestação do 25 de Abril de 2007, mas aparecem identificados no respectivo processo, por alegadas ligações, na maioria dos casos, a movimentos anarquistas, de extrema-esquerda e ecologistas, que as autoridades associam àquela manifestação.

A maior parte das informações que a PSP coligiu sobre aqueles cidadãos não tem relevância criminal; outras foram retiradas de processos-crime, em grande medida, sobre (outras) manifestações não autorizadas e acções "Okupa" - ocupação de casas devolutas.

"Parece ter havido uma falha na preparação do relatório, porque deveria ter sido omitida a identidade das pessoas não constituídas arguidas no processo", comenta Paulo Henriques, da Faculdade de Direito de Coimbra.

O relatório da PSP, de 29 de Novembro de 2007 e assinado pelo então comandante metropolitano de Lisboa, Guedes da Silva, foi requerido por uma procuradora do DIAP de Lisboa, em 2007, após os confrontos, na zona do Chiado, entre o Corpo de Intervenção da PSP e participantes na "Manifestação antiautoritária contra o fascismo - contra o capitalimo".

A magistrada pediu informações sobre a "integração" dos 11 arguidos (um já falecido) do inquérito "em movimentos ou grupos tais como os citados no auto de notícia" - anarquistas e de extrema-esquerda - e registo de acções violentas e ilegais destes grupos. E juntou ao processo, que já é público, o relatório recebido da PSP.

PSP aponta cartão da JCP

O documento começa por relatar factos da vida de cinco dos 11 arguidos, sem que nenhum dos imputados - tentativas de furto em supermercados, ruído na via pública... - os ligue àquele tipo de grupos. O único facto "político" ali descrito decorre da integração de uma arguida num grupo que, na tarde de 25 de Abril de 2007, atirou ovos e tomates contra um cartaz xenófobo do PNR, no Marquês de Pombal.

Não se ficando pelos arguidos, a PSP começou por identificar seis dos atiradores de ovos. Ao primeiro da lista, imputou o incitamento à realização de seis greves e manifestações, em duas escolas secundárias. Mas sublinhou o activismo político do jovem de forma mais curiosa: "Em 4 de Novembro de 2006, participou o extravio de documentos, entre os quais se encontrava o cartão de militante da Juventude Comunista Portuguesa", apontou a PSP.

Lei proíbe ficheiros políticos

O relatório vai mais longe e identifica 24 pessoas que não têm sequer relação estabelecida com nenhum arguido. Contudo, participaram em acções de cariz político-ideológico: protestos contra cimeiras do G8 e a guerra no Iraque, acções contra os transgénicos, ocupação de imóveis devolutos...

Tome-se o exemplo do cidadão belga J.D.. A PSP não lhe imputa qualquer facto ilegal e muito menos com relevância criminal, mas identifica-o, por ele estar ligado ao grupo ambientalista GAIA, que terá membros comuns ao Verde Eufémia, que, por sua vez, terá destruído milho transgénico em Silves, em 2007. A PSP relatou que J.D. tinha 25 anos, recebeu um fundo da União Europeia para colaborar com o GAIA, é licenciado em Ecologia e em Ciências Sociais e Políticas, esteve três dias em Rostock (Alemanha) a manifestar-se contra a cimeira do G8, participa em workshops da REDE G8 em Portugal.

Este é um dos casos que levanta questões sobre como a PSP recolhe e trata dados dos cidadãos, sendo certo que a lei proíbe "o tratamento de dados pessoais referentes a convicções filosóficas ou políticas, filiação partidária ou sindical". O docente Paulo Henriques faz uma declaração de fé: "Quero crer que as actividades de recolha e tratamento de dados que as polícias desenvolvem têm lugar no estrito cumprimento da lei".

O JN questionou a PSP, mas esta não quis fazer "qualquer tipo de comentário". Dos quatro advogados dos arguidos contactados, pronunciou-se Alexandra Ventura, que contestou que a PSP "registe e interligue informações de pessoas que nada têm a ver com o processo".

"A PIDE registava informações das pessoas, mas não as divulgava…", comparou a jurista.

Retirado de: Indymedia PT