domingo, 23 de agosto de 2009

Carta aos Pais

Esta carta foi escrita por anónimos durante a revolta grega de Dezembro passado.

[Estou sem palavras, poderíamos nós estar a trazer uma geração com tanto potencial?]

Eu sei que vos devo bastante. Vocês fizeram-me nascer, deram-me água, alimentaram-me, trouxeram-me até aqui. Até me amaram. É o que vocês dizem pelo menos, porque as coisas são um bocado diferentes.

Vocês puseram-me aqui, num mundo em que se viram forçados a abandonar-me todos os dias e a correrem para os trabalhos. Trouxeram-me para aqui e começaram a procurar um sítio para me por.

Continuaram a levar-me para a escola e como isso não era suficiente continuaram a mandar-me para uma cambada de tutores privados e explicações, mais, deixara-me em stress devido ao meu futuro precário.

Desde que o meu futuro é suposto ser tão precário, desde que tornaram o mundo um local tão perigoso porque me puseram cá?! O que é a minha vida?! Aquelas duas horas de jogos de vídeo e televisão por dia?!

Eu quero ver um mundo em que possa abrir as minhas asas, voar e ver tudo num único momento! Eu quero sair, conhecer os outros, brincar, entreter-me, sentir alegria sem ter que me preocupar com o facto de amanhã ir para a escola sem ter estudado. Eu quero sonhar com um mundo onde as pessoas não vão procurar um sítio para me por, onde não tenham sempre trabalho para fazer, onde não seja perigoso conhecer outras pessoas, onde o futuro não me assuste, onde não haja senhores e escravos.

Eu vejo a vossa miséria, mas não estou habituado a ela e não me quero habituar também. Eu não vou baixar a cabeça porque vocês baixaram. Eu não quero tornar-me senhor ou escravo de ninguém! Eu quero ser deixado sozinho.

Esses cães de guarda uniformizados não me assustam, não tenho medo deles. Vocês vêm neles uma certa ordem e segurança. Eu sou o que tem que ser levado a “dar um volta” porque vejo perfeitamente bem que essa ordem é hipocrisia, e quanto à segurança, eles representam o maior perigo.

Eles são símbolos de autoridade. Vossos, dos professores, dos políticos, dos crescidos que vivem como vocês. Vocês aprenderam a viver assim, eu não. E se eles se querem meter comigo, pior para eles. Não há esperança para eles, e que isto fique bem nas suas mentes. Eu sou indignado e perigoso. E existem muitos de nós, raparigas e rapazes, estamos em todo o lado, mesmo nos lares dos assassinos. Não se podem esconder de nós, onde quer que estejam. De uma maneira ou de outra nós vamos continuar de pé e eles não.

Não se chateiem comigo, estou a fazer o que me ensinaram. Vocês disseram-me que revolta é caos e destruição. Agora que me revolto vocês recebem caos e destruição.

Eu amo-vos! À minha maneira, mas amo!

Eu tenho que construir o meu mundo para que possa viver a minha vida livre, mas para isso tenho que acabar com o vosso mundo. Isto é que é o mais importante para mim! Para explicar na vossa própria linguagem: Isto é o meu trabalho!

Um comentário:

אסתר disse...

Esta carta fez-me lembrar de um vídeo bué antigo, porém ainda actual:

http://www.youtube.com/watch?v=M_bvT-DGcWw