quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Não à violência do Estado cubano; Solidariedade com os/as companheiros/as na ilha

[No dia 6 de Novembro, dezenas de jovens cubano/as foram agredido/as por agentes do Estado cubano quando participavam de uma manifestação pela não violência no país. Há relatos que outras pessoas que se dirigiam ao protesto foram interceptadas pela polícia. Ao resistirem à ordem policial foram colocadas à força em carros descaracterizados e espancadas. A seguir alguns comunicados que chegaram diretamente da ilha.]
Compas:
Pedimos à esquerda internacional todo o apoio possível com vista a proteger o esforço que está realizando a geração mais jovem da Revolução Cubana contra a direita burocrática anquilosada no poder. Apelamos à criação de uma rede de apoio à militância anti-autoritária emergente [na Ilha], pois os destinos de Cuba e da sua Revolução dependem nestes momentos da nossa capacidade comum de resistência.
Agrupemo-nos!

Saudações libertárias desde La Habana.

Por uma Cuba Livre Libertária!

Movimento Libertário Cubano (MLC)

Compas:

Já circulam visões dentro das nossas instituições sobre o caráter "dissidente" e "mercenário" da marcha da passada sexta-feira. Como sabemos do silêncio das nossas mídias e que o barulho da direita pode dar indício de uma repressão de “baixo perfil” contra os camaradas participantes [da manifestação] que, supostamente se teriam deixado "manipular ingenuamente pelo inimigo"; seria bom circular estas imagens, crônicas e opiniões de assistentes [no protesto] aparecidos em meios eletrônicos. Neles se vê claramente o caráter humanista, cívico e alheio a qualquer manipulação da atividade. E os únicos slogans aparecidos referiam-se, expressamente, ao socialismo.

Só a mais ampla circulação deste olhar cubano e libertário agora eclipsado pela mídia estatal e pela mídia burguesa, irá impedir o anonimato, a invisibilidade e as possíveis represálias.

Não deixemos que nos roubem outro pedacito de esperança.

Agradecidos/as desde já e abraços!

Armando Chaguaceda

Uma pequena batalha de idéias contra a violência
12 de novembro de 2009 - www.havanatimes.org

Dmitri Prieto

A violência é uma realidade presente em quase todos os contextos sociais: na família, nas relações de gênero, na infância e na educação, no esporte, nas guerras, na política nacional e internacional, na ecologia... Mais simples, porém mais difícil, seria localizar onde não há violência. Infelizmente, Cuba não é excepção a esta lógica.

Para combater a violência deve-se desenvolver a coragem, a perseverança, determinação e espírito de humildade. Há muitas teorias e práticas relacionadas com a não-violência, que propõem padrões de ação e de convivência social.
Como escreveu recentemente uma amiga em HT: "A questão da violência é muito complexa... precisamos de uma volta ao interior da alma e que depois se estenda pelas ruas". Sexta-feira última, algo muito insólito aconteceu em Havana: aparentemente sem nenhuma convocatória "oficial" ou "da oposição", umas 200 pessoas reunimo-nos numa esquina do bairro central El Vedado, para fazer uma caminhada em conjunto contra a violência. Percorremos a Avenida 23, e depois regressamos ao ponto de partida, na esquina da 23 e G.

Hoje considero um privilégio ter estado lá. Mas não é a primeira vez que acontece em Havana um evento dedicado à não-violência: há mais de um mês, reunimos cerca de 50 pessoas na Casa de Cultura del Vedado para discutir a questão e apreciar a arte que questiona a violência, então, o projeto Ahimsa e a rede Observatório Crítico organizaram e promoveram a ação. Fiquei encantado, pois muitas pessoas que naquele momento estavam conosco também participaram da caminhada na sexta-feira passada.

Assim, às cinco da tarde de sexta-feira, na esquina da G e 23 foram-se agrupando cerca de 200 pessoas. Não ficou claro quem organizava a "performance", aparentemente não foram utilizados meios de divulgação oficiais ou alternativos, a notícia correu de "boca a orelha".

Eu envolvi-me porque assim o quis. Tal como os restantes, tive a opção: estar ou não estar, ir ou não. Opção ausente em muitas das ações públicas que conhecemos.

De qualquer modo, 23 e G são lugares muito movimentados, especialmente por jovens, por isso não foi nada de especial em que alguns estivessem ali. Acho que a maioria daqueles que foram compartilham esse pensamento. Talvez passando por interesse ou curiosidade, mas certamente ficou claro que precisávamos de um pouco de coragem, determinação e empenho para estar lá, porque era algo fora do comum que se estava gerando, e como eu disse, não estamos acostumados a ações deste tipo. Mas sempre tive a opção de não estar.

Era "opcional" para quase todos, mas para honrar a verdade alguns não puderam fazê-lo devido à intervenção policial, contrária ao reconhecimento tácito, mas sempre sob suspeita, do espírito da caminhada, pelas autoridades.
A sua prisão e a sua ausência da caminhada se tornou um tema hit para a blogosfera "liberal". Não foi simétrica esta cobertura. Ao mesmo tempo, a caminhada teve lugar, independentemente da ausência de pessoas que alguns (da "direita"? da "esquerda"?) quiseram apresentar como "líderes". Isso demonstra o limitado papel de "mobilização" ou "manipulação" - tão presentes no imaginário normativo a que estamos acostumados -, na decisão das pessoas de participar na ação. Estávamos ali para protagonizar um ato singular, não para seguir um bando de “líderes”.

A violência não necessária é contraproducente
11 de novembro de 2009 - www.havanatimes.org
Pedro Campos e outros compas

Escrevemos isto com amargura, teríamos preferido não ter de fazê-lo, mas os princípios éticos e revolucionários não nos permitem outra alternativa.

Temos vindo a advertir para o crescente distanciamento entre os órgãos da direção administrativa do país e o povo em geral, a causa das políticas econômicas e sociais erradas das últimas décadas e da ausência de um verdadeiro diálogo entre as forças revolucionarias e no seio de todo o povo. Uma revolução que não desemboque na entrega do poder real, e da economia e de todas as decisões, que os afetam, aos trabalhadores e ao povo, termina irreversivelmente no seu contrário, reprimindo a esquerda e o próprio povo, como se demonstrou nos falhados intentos socialistas do século XX na Europa e na Ásia. Ultimamente, graves erros da burocracia estão acelerando a decomposição política do ambiente e a própria divisão no seio das forças revolucionárias.

Nenhum revolucionário verdadeiro está disposto a apoiar a reversão da Revolução nem a restauração do Capitalismo privado, seja a partir das fileiras da direita ou a partir da burocracia. Tampouco podem estar de acordo em reprimir com violência aos que simplesmente expressem um pensamento distinto, ou dos que pacificamente desejem expor os seus pontos de vista, mesmo que não concordemos com eles. “Quando vieram buscar um comunista, ninguém se manifestou; quando vieram buscar um judeu, ninguém se manifestou; quando me vieram buscar a mim, ninguém se manifestou”: ocorreu na Alemanha fascista.

“Posso não estar de acordo com o que dizes, mas estou disposto a defender com a minha vida, o teu direito a dizer-lo” foi uma máxima revolucionária em todos os tempos. As ações do inimigo e a oposição devem ser rechaçadas correspondentemente. À violência contra-revolucionária não resta outra alternativa que responder da mesma forma. Mas a sobre-reação, como responder no plano violento a ações pacíficas, tem demonstrado na prática ser contraproducente e tem-se virado contra quem a aplica.

Os que assim pensamos não podemos estar de acordo com ações repressivas contra pessoas que desejam se manifestar pacífica e publicamente, ainda que não compartilhemos as suas posições e ideologicamente as combatamos sem descanso.

Duas razões principais levam à desaprovação destas ações de repressão contra a oposição pacífica.

1- Aceitá-las impassivelmente implica ser cúmplice da violação do direito humano sagrado à livre expressão, de profunda raigambre na própria história revolucionária cubana. Fidel, Camilo e o Che desde a Sierra ensinaram-nos a respeitar o adversário e evitar a violência não necessária. E desde o Manifesto de Montecristi, Martí estabeleceu os princípios éticos do trato com a oposição.

2- Estas ações só servem para fortalecer a quem estão dirigidas, dar-lhes a razão nas acusações sobre violações dos direitos do povo cubano, afetar a imagem internacional da revolução e complicar mais ainda a já difícil situação política interna.

Os que querem borrar as cores da vida e põem tudo em branco e negro, os que atuam violentamente sem necessidade, estão servindo os inimigos da Revolução, estão ajudando a consolidar as figuras que combatem.

Rechaçar a violência não necessária não macula a postura revolucionária e comunista, pelo contrário: a dignifica.

Tradução > Liberdade à Solta

agência de notícias anarquistas-ana

a volta ao lar
inquieta serenidade
parece que foi ontem

Seadog

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