quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
Portugal cúmplice no transporte de mais de 700 prisioneiros para Guantanamo
A Reprieve, uma ONG que se dedica a prestar assistência jurídica a prisioneiros, cruzou dados facultados pelas autoridades portugueses, informação do Departamento da Defesa dos EUA com as datas de chegada dos prisioneiros a Guantanamo e testemunhos de vários detidos.
Uma organização não governamental (ONG) britânica acusa Portugal de "cumplicidade" no transporte de 728 prisioneiros para a prisão mantida pelos Estados Unidos na base de Guantanamo, em Cuba, entre 2002 e 2006.
A Reprieve, uma ONG que se dedica a prestar assistência jurídica a prisioneiros a quem tenha sido negada justiça, divulgou esta terça-feira um relatório intitulado "Viagem da Morte" que diz provar de forma "conclusiva que o território e espaço aéreo portugueses foram utilizados para transferir mais de 700 prisioneiros para serem torturados e detidos ilegalmente em Guantanamo Bay".
Para chegar a esta conclusão, a ONG cruzou dados facultados pelas autoridades portugueses, informação do Departamento da Defesa dos EUA com as datas de chegada dos prisioneiros a Guantanamo e testemunhos de vários detidos. No relatório (ver relacionados no final deste texto), a Reprieve "detalha pela primeira vez os nomes destes prisioneiros e as suas histórias".
O ponto de partida para este trabalho foram os dados obtidos em 2006 por Ana Gomes, no âmbito das investigações que levou a cabo no seio da comissão de inquérito criada pelo Parlamento Europeu. Na altura, a eurodeputada socialista divulgou o registo de 94 voos que cruzaram o espaço aéreo nacional a caminho ou no regresso da base americana em território cubano, obtido junto das autoridades lusas competentes.
Estes foram posteriormente cruzados com as listas oficiais norte-americanas com o registo de entrada de 774 prisioneiros em Guantanamo, com a data e os respectivos nomes e nacionalidades, que coincidem com a chegada de 28 dos referidos voos.
A ONG identifica todos estes prisioneiros, destaca 11 histórias detalhadas de indivíduos, alguns dos quais ainda se encontram detidos em Guantanamo e defende que as investigações demonstram que Portugal desempenhou um papel de apoio de relevo no amplo programa de transferência de prisioneiros: "nenhum destes prisioneiros poderia ter chegado a Guantanamo - e sido sujeito a seis anos de abusos - sem a cumplicidade portuguesa".
O ministro dos negócios estrangeiros, Luís Amado, que coordenou a resposta do Governo em todo este processo, disse em Bruxelas que não tem "qualquer informação" sobre o relatório, reservando por isso um comentário para quanto tiver acesso ao documento.
Retirado de: Jornal Expresso
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