Dia 20 de Maio, entre outros acontecimentos que nos ocupavam a alma e também o tempo, decorreu mais uma sessão do julgamento contra 25 ex-reclusos na prisão de Caxias, acusados de danos, fogo posto e motim.
Cerca de 15 anarquistas concentraram-se perto do tribunal de Oeiras onde, desde a manhã, distribuímos folhetos contra as prisões, a Lei e a Justiça, e jornais (“Presos em Luta”) a quem passava.
Em frente à porta do tribunal estavam pintadas as frases “SOLIDARIEDADE COM OS 25 DE CAXIAS!”, “DESTRUAMOS OS MUROS DA PRISÃO, PARA LÁ DA AMNISTIA E DO PERDÃO.” e “LIBERDADE PARA TODOS. FOGO ÀS PRISÕES. (A)”. Nos arredores, outras pintadas haviam sido feitas num bairro de ricos: “FOGO AOS TRIBUNAIS E ÀS PRISÕES. (A)” e “1000 PRISÕES, 1000 FUGAS”.
Em toda a rua do tribunal estavam colados cartazes (como já tinha acontecido em sessões anteriores) com o seguinte texto:
“Prisões, revolta e Caxias.
13 anos depois de uma luta alargada dos presos pela melhoria das condições a que estavam sujeitos nas prisões, o estado decide levar a julgamento 25 dos então reclusos na prisão de Caxias, acusando-os de motim, danos e fogo posto.
Não nos interessa se o fizeram ou não.
Interessa-nos sim o amor pela liberdade, aquele que persiste em não morrer, em não se deixar sufocar pelos tribunais, nem pelas grades, nem pelos guardas.
São momentos alegres, aqueles em que esse amor se expressa.
Momentos em que comunicamos entre corações livres.
Momentos que nenhuma autoridade nos pode tirar.
Solidariedade com aqueles/as que lutaram
Solidariedade com aqueles/as que lutam.
Anarquistas pelo corte da mão que nos prende, e pela expropriação da chave.”
À saída dos arguidos para o almoço, abrimos uma faixa (“CONTRA O ROUBO DAS NOSSAS VIDAS, NEM TRIBUNAIS NEM PRISÕES”) em frente à porta do tribunal e gritámos “A PAIXÃO PELA LIBERDADE É MAIS FORTE QUE AS PRISÕES”, e “A LIBERDADE ESTÁ NOS NOSSOS CORAÇÕES. ABAIXO OS MUROS DE TODAS AS PRISÕES!”. Foi um belo momento, ao vermos que os polícias presentes não sabiam o que fazer, ao mesmo tempo que os gritos de alguns arguidos se juntaram, sem medo, aos nossos.
Ainda deu tempo para insultar a procuradora do Ministério Público, que saiu apressada.
À tarde, ouvimos, do interior da sala do tribunal, os gritos vindos do exterior contra o julgamento, as prisões, os juízes, e em solidariedade com os acusados. A dado momento, a juíza desabafou aos intervenientes no julgamento que não tinha poder para conseguir fazer calar os gritos que se ouviam e que estavam a perturbar a sessão.
Depois, alguns dos acusados, fartos de estarem a ser vigiados e intimidados pelas bestas quadradas que dão pelo nome de “guardas prisionais”, levantaram-se e começaram a gritar que não tinham que aturar aquilo e a exigir que se afastassem. A esses gritos juntaram-se os da assistência.
Mais tarde, um dos guardas aproximou-se da assistência e disse que queria uma cópia daquilo que uma companheira estava a desenhar. Imediatamente nos levantámos e começámos a gritar contra ele e que os guardas estavam a tentar intimidar-nos assim como aos arguidos e, também imediatamente, muitos dos arguidos se levantaram e começaram a gritar contra os guardas e não só. Entre os diversos insultos gritados em todas as direcções às diversas autoridades presentes naquela infame sala, a juíza mandou os bófias evacuar a assistência da sala. Já no exterior do tribunal, 2 companheiros foram identificados.
Meia hora mais tarde, a sessão terminou, com alguns dos arguidos a dizerem-nos que conseguiam ouvir os nossos gritos noutras partes do tribunal e no exterior, e que a sessão tinha sido encerrada porque os advogados de defesa estavam todos na conversa e a juíza já não conseguia pôr ordem na sala.
A nossa força e a nossa alegria explodem e fortalecem-se com cada ataque à autoridade.
O inimigo não está apenas naquele tribunal, a solidariedade não necessita de ser lá.
Solidariedade com os que lutaram. Solidariedade com os que lutam.
Fogo aos tribunais, às prisões e a ao mundo que os cria.
Uns quantos corações livres.
Retirado de: Rede Libertária
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