terça-feira, 13 de maio de 2008

Quando há 40 anos a poesia estava nas ruas...



A ideia dominante no fim da década de 50 e início de 60 era de que o sistema capitalista era estável e que não haveria espaço para movimentos revolucionários. Esperava-se apenas o surgimento de revoltas nos países de terceiro mundo.


Surgem algumas situações que directa ou indirectamente se tornaram uma espécie de rastilho para os movimentos de maio e para os que se seguíram posteriormente. Os principais eram a guerra do Vietname, o apartheid na África do Sul, o surgimento de ditaduras de direita na América Latina, a segregação racial nos estados do sul dos E.U.A. , A guerra colonial em África, Martin Luther King, o grande conservadorismo sexual, o sexismo e a proíbiçao da homossexualidade.


A partir de 1965 surgem algumas greves locais em França que dão alguma confiança aos trabalhadores.

No final de Março de 1968 surgem um movimento do qual eram participantes estudantes anarquistas, trotskistas e maoistas.

No dia 22 de Março 150 estudantes invadem um edifício administrativo da Universidade de Nanterre. As suas reivindicações eram o fim da guerra do Vietname e a liberdade sexual. Criticavam também a burocracia do estado e a discriminação de classes em França. A administração da Universidade chamou a polícia que cercou o edifício. Após a publicação dos seus desejos os estudantes abandonam o edifício sem incidentes. Depois disso os dirigentes do chamado "Movimento de 22 de Março" foram reprimidos pelo comité disciplinar da universidade.

Isto desencadeou uma grande revolta nos estudantes e devido aos conflitos a Universidade de Nanterre foi encerrada no dia 2 de Maio e vários alunos estavam ameaçados de expulsão permanente.

No dia 3 de Maio de 1968 os estudantes da Universidade de Sorbonne organizaram um protesto de solidariedade.

Na Segunda-feira seguinte, no dia 6 de Maio a UNEF (sindicato estudantil de França) convocou uma grande manifestação que contou com mais de 20.000 estudantes que foi violentamente reprimida pela polícia de intervenção. Enquanto os estudantes dispersavam alguns erguiam barricadas enquanto outros atacavam a polícia com pedras. O corpo de intervenção viu-se forçado a retirar, mas contra-atacou em força e com gás lacrimogéneo. Centenas de estudantes foram presos.

Os sindicatos estudantis do ensino secundário marcaram a sua posição a favor dos estudantes universitários. No dia seguinte houve uma grande manifestação que juntou os estudantes do ensino superior, do secundário, professores e um número cada vez maior de trabalhadores jovens. As exigências eram:

- Retirar as acusações de crime a todos os estudantes presos;
- Desocupação das universidades por parte das forças policiais;
- Reabertura das universidades de Sorbonne e Nanterre.

As negociações pararam e os estudantes voltaram às escolas, devido a um rumor de que estas se encontravam livres da polícia. Mas verificaram que era falso e crescia assim o sentimento revolucionário.

No dia 10 de Maio houve outra grande manifestação que voltou a ser reprimida com muita violência. Os confrontos (dos quais resultaram centenas de detenções e feridos) foram transmitidos em directo pela rádio e as imagens foram transmitidas no dia seguinte pela televisão.

As reacções a isto foram tremendas, músicos e poetas mais mainstream começaram a apoiar os grevistas em vários países. O Parti Communiste Français (PCF) apoiou os estudantes de modo relutante e as duas principais forças sindicais , a Confédération Générale du Travail (CGT) e a Force Ouvrière (CGT-FO) convocaram uma greve geral e uma manifestação para o dia 13 de Maio.

A manifestação contou com mais de 1 milhão de pessoas e a polícia não interviu. O Primeiro Ministro Georges Pompidou anunciou pessoalmente a libertação dos estudantes e a reabertura das universidades.

Quando a Universidade de Sorbonne reabriu, foi imediatamente ocupada pelos estudantes e foi declarada uma "Universidade Autónoma do Povo". Foram criados cerca de 401 Comités de Acção Popular entre eles o Comité de Ocupação de Sorbonne.

Nos dias seguintes, foi ocupada uma fábrica em Nantes por jovens trabalhadores sindicalistas, consta que a administração foi detida no escritório e durante várias horas os operários cantaram repetidamente "A Internacional" para "educar os patrões". Depois foram várias fábricas da Renault que ficaram na posse dos trabalhadores.

No dia 17 de Maio havia 200.000 trabalhadores em greve, nos dias seguintes o número aumentou para 2 milhões e posteriormente para 10 milhões de trabalhadores em greve!

Estas greves eram autónomas e espontâneas, ou seja, não eram organizadas pelas forças sindicais. Aliás, a CGT tentou conter as exigências dos trabalhadores canalizando as forças para aumentos salariais.

Nos dias 25 e 26 de Maio foram assinados acordos que previam um aumento de 25% no salário mínimo e de 10% no salário médio. Essa oferta foi recusada e as greves continuaram. Trabalhadores e estudantes sabiam que podiam pedir maiores mudanças sociais.

Por esta altura o governo estava à beira do colapso e Charles De Gaulle retirou-se para a Alemanha onde se reuniu numa base militar francesa com os seus generais. Depois de garantir que tinha apoio do exercito fez um comunicado através da rádio em que dizia que o povo tinha que escolher entre ele e o caos. Depois comunicou que ia dissolver a Assembleia e convocar eleições. Ordenou aos trabalhadores que voltassem ao trabalho ou era declarado o estado de emergência.

O sentimento revolucionário começou a desvanecer e os trabalhadores voltaram progressivamente ao trabalho encorajados pelos sindicatos ou obrigados pela polícia.

No dia 16 de Junho a Universidade de Sorbonne foi desocupada pela polícia.

No dia 23 de Junho De Gaulle foi o vencedor nas eleições e várias organizações de esquerda foram banidas e alguns dos seus activistas detidos.

Os acontecimentos de Maio de 1968 demonstram que de devemos valorizar a espontaneidade das pessoas, mas que não devemos por de parte a organização, para no caso de um contra-ataque o movimento não dispersar. Mas acima de tudo estes estudantes e trabalhadores demonstraram-nos que outro mundo é possível.

O AMANHÃ SERÁ NOSSO!!!

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