segunda-feira, 11 de junho de 2007

Mas afinal de contas quem são os miudos vestidos de negro nas manifs?

O que é o Black Bloc?

O Black Bloc não é um grupo ou organização para a qual se possa entrar, mas sim uma táctica utilizada durante as manifestações que surgiu na Alemanha na década de 80. O termo surgiu como um modo de a polícia descrever o grupo de jovens contra o qual lutava.

Existem várias razões para fazer um Black Bloc, entre elas:

- Solidariedade: Um grande número de activistas zela pela segurança dos outros manifestantes contra as investidas das forças policiais;

- Visibilidade: O Black Bloc consegue um grande impacto visual e assim visibilidade para o movimento;

- Ajuda mútua e associação livre: é um grande exemplo de como grupos de ideais semelhantes se podem juntar num só grupo muito mais forte…

A táctica utilizada por cada Black Bloc depende do que é decidido em cada manifestação. Regra geral, os ataques às forças policiais ocorrem como resposta a ataques desferidos contra os manifestantes.

Não é absolutamente necessário estar vestido de preto e usar a cara tapada para fazer parte de um Black Bloc. A roupa negra e as máscaras são para conseguir o anonimato pois é hábito da polícia filmar e fotografar os manifestantes para os seus arquivos.

No ano de 2001 em Génova (Itália) houve um Black Bloc “organizado” pela polícia do qual faziam parte agentes infiltrados que vandalizaram e destruíram várias lojas numa tentativa de denegrir e criar uma divisão no movimento. Objectivo que não foi conseguido.

Em Rostock o papel do Black Bloc foi importantíssimo, fica aqui um relato dos confrontos do dia 2 de Junho em Rostock:

"(...)Fomos avançando no "cortejo" até passarmos a caminhar lado a lado com um (ou mais, difícil dizer) grupo bastante grande - um dos grupos dos tais miúdos vestidos de negro, a que a comunicação social chama "black bloc". A verdade é que um bloc nao é um grupo, mas sim uma táctica utilizada por diversos grupos, o que torna a definição um tanto ou quanto ridícula. De qualquer forma, e para efeitos de situar quem lê, chamaremos a estes grupos mais ou menos organizados de "black bloc". É importante a nossa observação dos eventos tal como eles se desenrolaram, nem que seja para mostrar as mentiras da TV e jornais. Se estamos neste momento a escrever este artigo, isso talvez se deva à existência desses "terríveis black blocs".

Durante toda a marcha, elementos vestidos de negro, com a cara tapada, caminhavam ao lado da marcha, para trás e para diante. Fizeram-no para nossa segurança, para vigiar possíveis ataques da polícia (à paisana ou não).

Nota: o nosso sentimento de insegurança desde que aqui chegámos e inenarrável, mas esse sentimento jamais teve algo a ver com a presença desses miúdos ou de qualquer outro grupo. Foi a polícia em armadura de combate, um pouco por toda a cidade e com os olhos a irradiar ódio, que realmente nos assustou de início. Agora sabemos que o poder deles reside no medo que conseguem incutir em nós - em parte, esta guerra está ganha.


A dada altura do protesto, tivemos que passar debaixo de um viaduto. A polícia tinha alguns elementos na estrada que passa em cima do viaduto e estava a filmar a manifestação. Até então, a grande maioria das pessoas estava de cara descoberta (sim, mesmo a maior parte dos miúdos do bloc... os únicos que estavam uniformemente de cara tapada eram os exércitos de clowns que desfilavam connosco). A partir desse momento passou a ser visão comum as pessoas de cara tapada com lenços, cachecóis, t-shirts, ... Também nós o fizemos - proibição ou não, não autorizamos que nos filmem.

Nota: é de extrema importância referir que quem liderava o cortejo não eram esses grupos de miúdos vestidos de negro, mas sim um sindicato ou um partido (não conseguimos perceber, e na altura não nos pareceu importante - lição aprendida) cuja cor principal nas bandeiras e t-shirts era o amarelo. A acompanhar esse(s) grande(s) grupo(s) estava um camião que ia passando música, mensagens diversas e mandava fumo e bolhas de sabão para continuar a festa. O bloc estava imediatamente atrás mas a umas boas dezenas de metros da frente deste cortejo.

(...)Esse grupo fronteiro continuou a avançar e a polícia carregou em força e à bastonada. A imagem dessa carga policial é visível na capa do jornal alemao Der Tagesspiegel, do dia 3 de Junho de 2007. Aconselhemos a que todos dêem uma vista de olhos a essa imagem do início dos confrontos - tentaremos fazer um scan da mesma o mais brevemente possível. Damos 5 ? a quem identificar o terrível black bloc no meio dos confrontos - quem for capaz de ignorar os homens, mulheres e jovens a ser atacados, apenas se defendendo com as suas bandeiras e faixas.

O black bloc não poderia estar com essas pessoas pois estava connosco e em peso, entre 30 e 50 metros de distância do foco do conflito.

A carga policial começou por volta das 15h00 (talvez uns minutos antes) e só nos apercebemos de que de facto havia um ataque da polícia quando as pessoas dentro do camião gritaram aos microfones em alemão, inglês e espanhol que estávamos a ser atacados. Quando chegou a tradução em espanhol já a polícia estava quase em cima de nós.

O bloc (pronto, chamemos-lhe assim) imediatamente formou uma série de correntes, fazendo as pessoas dar os braços entre si - uma barreira para impedir a polícia de avançar, e mesmo os manifestantes que pudessem entrar em pânico (um pânico generalizado poderá ser infinitamente pior que uma carga policial). Eles assumiram a defesa de todos os manifestantes e ficaram entre a polícia e o resto do protesto. Antes dos grupos mais à frente conseguirem retirar vimos uma série de objectos a voar, para além das bandeiras atrás referidas, mas não conseguimos perceber muito bem quais. É de referir que não houve nenhum ataque de pedras até esse momento - ninguém estava a espera do ataque da polícia, ninguém se tinha preparado para uma guerra, o nosso protesto era pacífico. Só a polícia estava preparada, só ela queria o confronto.(...)"

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