sábado, 9 de junho de 2007

Porque odiamos o G8?

O G8 é o grupo dos países «mais poderosos» do mundo. Provém do G7, formado pelos sete países mais industrializados do bloco ocidental (Alemanha, França, Itália, Grã Bretanha, EUA, Canadá e Japão) em 76. A Rússia foi convidada pela primeira vez em 1991. Desde 1997 este convite tornou-se estável, começando-se a falar de «G8». Na cimeira do Canadá de 2002 a Rússia integra-se plenamente. Além destes participantes, integram as discussões o presidente da Comissão Europeia e o Presidente de turno da UE.


Embora o «G8» se apresente como simples foro de discussão, podemos ver claramente que tem capacidade de tomar decisões e de as impor a nível mundial. Ano após ano, vemos serem impulsionados importantes aspectos da política neo-liberal (liberalização comercial e financeira, privatizações, flexibilização do mercado laboral...) acompanhados de uns quantos «rebuçados» e palavras bonitas sobre a luta contra a pobreza, a fome, ou doenças incuráveis. Mas apenas as directivas de política neo-liberal são cumpridas.

Dos 110 mil milhões de dólares da perdão da dívida externa prometidos em 1999, em Junho de 2003 tinham sido efectivados menos de um terço. Dos 13 mil milhões de dólares anuais prometidos em 2001 ao Fundo Global de Saúde para luta contra a sida ou a malária, só se efectivaram 350 milhões por ano. Apesar das promessas (desde 1981) de destinar 0,7% do PIB à Ajuda Oficial ao Desenvolvimento, nenhum dos países do G8 chega sequer aos 0,33%.

Mas noutras questões são muito mais efectivos, pois têm mesmo a capacidade de impor as suas decisões. Dos 5 países com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU, 4 formam parte do G8. No FMI e no Banco Mundial, funciona um sistema de votos por quotas ou seja, o número de votos de cada país varia em função do montante de quotas (dinheiro) que fornece ao fundo comum, de forma que os países mais ricos podem acumular mais votos. Os países membros do G8 concentram 44% dos votos, nestas instituições. Nas negociações no âmbito da OMC também se observa que os países do G8 costumam formar um bloco, constituído por EUA, Canadá, UE e Japão. Na prática, a posição da UE é determinada sem a participação real dos 21 países europeus que não têm representação directa no G8.

Apesar da relevância das decisões, os debates são mantidos secretos. Não existe qualquer transcrição dos mesmos e os documentos preparatórios, mesmo sendo elaborados por funcionários dos países membros, também são geralmente mantidos secretos. Os únicos documentos totalmente públicos são as declarações finais.

Se dizemos que o G8 tem muitos aspectos de governo mundial na sombra, não estamos portanto a falar sem fundamento. Não apenas não existe nenhuma transparência, como reflectem as decisões dos chefes de Estado e de Governo e interesses particulares dos respectivos países. Ao todo, isso corresponde a 10% da população mundial, que detém 60% da riqueza mundial.

Este ano, provavelmente iremos ver lindas declarações sobre o Aquecimento Global e compromissos de redução de emissões de Gases de Efeito de Estufa. Não se pode esquecer porém, que estes países, desde há um século, pelo menos, são responsáveis pela grande maiora da poluíção atmosférica e outra, que assola o planeta. Não podemos esquecer que têm uma dívida bem pesada para com as populações dos países mais pobres: eles foram expoliados na era colonial e pós-colonial. No passado recente e na actualidade, suas frágeis infra-estruturas de saúde, educação, etc, foram destruídas pelo «diktat» de uma política de privatização forçada e abertura dos seus mercados, o que manteve e aprofundou a pobreza nesses mesmos países, cujas intervenções do FMI e BM pretendiam «salvar».

Não podemos deixar de manifestar, por todos os meios ao nosso alcance, o nosso repúdio, dizendo alto e bom som que estes dirigentes não têm mandato nenhum dos povos que dizem representar, mas apenas dos interesses corporativos, dos grandes conglomerados transnacionais, que mantêm o controlo da economia mundial e promovem um «desenvolvimento» não sustentável, apenas para beneficiar alguns privilegiados dentro dos países mais ricos (a classe trabalhadora destes países também sofre as investidas do neo-liberalismo e também teria tudo a ganhar com a mudança da orientação mundial).

Retirado de: Luta Social

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