sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Génova somos todos!


Sexta-feira, 14 de Dezembro, foi publicada a sentença do processo judicial que se arrastava já há 3 anos e meio contra 25 activistas que participaram no bloqueio ao G8, a 20 de Julho de 2001 em Génova. Catorze dos acusados irão ser condenado com base na acusação de “danos” e dez por “saqueio e devastação” com penas que oscilam entre os 5 meses e os 11 anos. Uma companheira acabou por ser absolvida. No total as penas chegam aos 106 anos de prisão.

Mais de 6 anos depois é esta resposta judicial e estatal aos protestos que bloquearam a reunião das auto denominadas “oito potências mundiais”. Na altura centenas de milhares de pessoas bloquearam o encontro sob a violenta repressão de um dispositivo policial cuja brutalidade, mais uma vez, saiu totalmente impune. Após o arquivamento do processo relativo à execução de Carlo Giuliani, com os policias responsáveis pelo assasinato a saírem ilibados, os vários processos relativos aos espancamentos e perseguições a milhares de pessoas nas ruas, hospitais e esquadras, ou à sádica e cobarde rusga à “escola Diaz”, onde se encontravam albergados centros de informação independente, arrastam-se penosamente nos tribunais italianos.

Um pouco por todo o lado já surgiram reacções às penas emitidas pelos tribunais italianos. Seis anos depois a revolta de Génova está demasiado presente para ser esquecida no interior do mecanismo de sabotagem de memória mediático, que busca o arrependimento pelas barricadas levantadas ,pela resistência contra uma ordem que se quer imposta no interior do silêncio e da apatia. Génova somos todos!

G8 - Génova 2001

O reavivar da memória

“Under a government which imprisons any unjustly, the true place for a just man is also a prison.” - Henry David Thoreau in “Civil Disobedience”

Na “aldeia global” em que hoje vivemos toda a oportunidade de manifestar desagrado pelas políticas de manutenção da miséria tem de ser aproveitada face aos representantes dessas mesmas políticas. Julho de 2001 foi um mês marcante nos protestos contra o sistema vigente: oito pessoas reunidas a decidir os destinos de praticamente todo o planeta foram confrontadas, na cidade de Génova, por centenas de milhares de manifestantes que se insurgiram por “um outro mundo possível”.

Durante o espaço de poucos dias vários grupos, associações, organizações, colectivos, ou até mesmo partidos reuniram-se para mostrar que, em nome de milhões de pessoas necessitadas e revoltadas, a política que se está a fazer não funciona e que é preciso destruí-la.

Foi criado um espaço de convergência em Génova, para reunir os vários grupos de maneira a que fosse possível organizar a manifestação. Como todos nós sabemos, o universo destes grupos está repleto de divisões . E desde o início que em Génova se notou uma primeira divisão: os grupos que estavam dentro do Fórum Social de Génova e os que estavam fora dele. Os média apressaram-se nas conclusões: os primeiros eram pacíficos, enquanto os segundos preferiam a via da violência, uma forma maniqueista de olhar para as coisas que deu mão livre à polícia. Obviamente que as divisões não eram assim tão simples. Nunca o são.

Por seu lado, a polícia italiana também se organizou. Há dados que permitem afirmar que muitos agentes foram treinados por estadunidenses. Foi criada uma morgue temporária num hospital, para agentes policiais e há informações que indicam que encomendaram 200 sacos para cadáveres. Os meios de entrada em Itália foram controlados nas fronteiras (levantando os acordos de Schengen), os aviões desviados para aeroportos de outras cidades e as estações de comboios encerradas. Até uma bateria terra-ar foi instalada no aeroporto para “proteger os participantes na cimeira de eventuais ataques terroristas ou de manifestantes”. Foram colocados no terreno cerca de 15.000 “agentes de segurança” em oposição aos estimados 200 mil manifestantes.

Quando começaram as manifestações, pouco tempo demorou até aos confrontos terem início. Ao longo dos três dias de cimeira (de 20 a 22 de Julho) 500 pessoas ficaram feridas, muitas delas com gravidade. A polícia invadiu o Fórum Social de Génova (onde também estava localizada a “base” do Indymedia para a cobertura dos eventos que viu o seu material capturado) sob a alegação de que os manifestantes violentos estavam lá abrigados. De acordo com o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, “não se fazia distinção entre os dois grupos”[os violentos e os pacíficos].

Um manifestante, Carlo Giuliani, foi assassinado a tiro por um polícia e seguidamente atropelado.
A cimeira custou um total de 200 milhões de dólares.

288 pessoas foram presas durante os três dias de cimeira, sem contar com as 100 pessoas detidas nos restantes dias. Os médicos do Fórum Social de Génova trataram cerca de 300 pessoas, sem contar as 500 que já foram referidas. No dia 7 de Agosto de 2001 ainda estavam 51 pessoas presas.

Na sequência dos eventos de Génova três responsáveis da polícia foram afastados e o Ministério do Interior italiano demitiu-se. O agente que assassinou Carlo Giuliani foi reintegrado. Os cidadãos não desistiram e mantiveram queixas judiciais contra as forças policiais.

Fonte: Centro de Média Independente

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